O rosto de Deus (II)
Em continuidade ao tema do artigo anterior pergunta-se: diante desta confusão multicultural faz sentido falar de Deus? Tendo sentido, quais os critérios para falar de Deus? Justamente pela razão de acreditar num único Deus faz sentido discorrer sobre o conceito e a experiência com o divino. Mais, diante da sociedade secularizada, é imprescindível ter um verdadeiro conceito de Deus. Eis o desafio para a teologia e para as religiões.
Na atualidade Deus deixou de ser evidência. Isto é, nega-se-lhe a existência. Uma série de causas levou a sustentar a doutrina do ateísmo moderno. Entre elas, a ciência exata diz que ninguém jamais viu Deus. Portanto, é impossível comprovar sua existência. O não confessional afirma que Deus assevera e cerceia a liberdade humana. Aos indiferentes, Deus não traz nenhum benefício. Os teóricos do campo ético dizem que Deus não traz nenhuma vantagem na fé, pois os cristãos não são melhores que os outros. Se não bastasse isto, outros teóricos renomados justificam esta posição. Isto é, reduzem Deus a uma projeção ou fantasia humana. Alegam ser uma invenção da frustração ou desejo. Ludwig Feuerbach arguiu a tese da projeção humana; Karl Marx concluiu ser a religião o ópio do povo; Sigmund Freud afirmou ser ilusão infantil; Friedrich Nietzsche arrotou a morte de Deus. Em todos esses pensadores, a fé em Deus é considerada como algo danosa para o ser humano, pois o supremo ser seria o próprio ser humano. Na atualidade prega-se uma teologia da morte de Deus. Portanto, em nossos dias deve-se justificar e evidenciar a razão de ter fé em Deus. A ciência teológica está sob este fogo cruzado do mundo de pensamento multicultural.
Contudo, a razão humana é capaz de justificar e chegar ao conhecimento de Deus por via da ciência e da experiência de fé. O teólogo São Tomás de Aquino (1225 – 1274) diz que existem cinco princípios lógicos para a existência de Deus. Conforme o princípio ontológico, Deus é, por excelência, o ser perfeito. Nisto não lhe pode faltar existência. Pelo argumento cosmológico, o mundo, tal como está, deve ter um criador. Isto é, uma causa que o pôs em movimento. O terceiro argumento é teleológico. Na filosofia este princípio corresponde ao estudo dos fins. De acordo com ele, pode-se concluir a existência de Deus a partir da ordem das coisas, de um governante que persegue uma finalidade. O quarto princípio é moral: a consciência humana está para um imperativo ético incondicional. Pelo quinto argumento, Deus deu-se a conhecer pela sua autorrevelação.
Em toda essa argumentação, no entanto, o conhecimento de Deus não acontece sem a fé. O verdadeiro conceito vai chegar ao argumento de que é Deus quem produz a fé das pessoas, não vice-versa. A experiência de fé cristã vai em direção ao centro divino, Jesus Cristo. Então, é Cristo que explica Deus. Mais, Cristo orienta a trilha para definir a imagem de Deus. Parece muito óbvio e lógico que sua trilha é amorosa, misericordiosa, generosa, compassiva. Portanto, Deus não é nenhum desconhecido.
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