O que é ideológico e utopia
A ciência da sociologia estuda os condicionamentos sociais do saber e do conhecimento. A sociologia analisa a relação entre conhecimento e existência. Apura a relação entre conhecimento e realidade. Conhecimento, saber e qualquer concepção é parcial, e as vezes também ideológica. Sem dúvida, a consciência pode estar condicionada as questões sociais e as suas produções mentais.
O pensador húngaro Karl Mannheim (1894-1947) e o filósofo alemão Marx Scheler (1874-1928) com suas pesquisas sobre Ideologia e utopia, contribuíram para a superação dos problemas típicos da sociológica do conhecimento. Para analisar o que é ideológico e utopia será preciso recorrer a sociologia que nos leva a perguntar sobre a relação entre conhecimento e existência. Surgem inúmeras perguntas relacionadas aos condicionamentos da existência humana, como do fato de pertencer a uma determinada classe, a burguesia ou a proletária, da elite ou do subutilizado. A sociologia pergunta o que isso implica na consciência de quem a ela pertence? Existem condicionamentos mentais de quem pertence a um partido, um grupo social, a uma geração, uma Igreja e outras? Mannheim escreve que “há aspectos do pensar que não podem ser adequadamente interpretados enquanto as suas origens sociais permanecem obscuras”. Logo, para este filósofo toda consciência está condicionada socialmente, portanto, assume uma ideologia de classe.
Karl Marx viu claramente que por detrás do pensamento coletivo se encerra uma consciência de classe. Em todo pensamento coletivo, que procede uma realidade e com determinados interesses sociais, para Karl Marx é ideológico. E toda ideologia é um pensamento subvertido. Isto é, não são as ideias que dão sentido à realidade, mas sim a realidade que determina as ideias morais, religiosas, políticas, filosóficas e outras. No caso, a classe burguesa propõe que suas ideias sejam universalmente válidas, embora estejam todas em defesa de seus interesses particulares. Nesta distorção de que a realidade dá sentido as ideias, a classe burguesa tende a justificar e manter uma situação que favorece seus interesses, isto é ideologia, para Karl Marx.
O pensamento condicionado a realidade produz a ideologia que tece uma rede de conceitos, incluindo os conscientes e inconscientes que permanecem em todos os níveis e concepções. A sociologia do conhecimento problematiza precisamente essa estrutura mental para desvelar o que está camuflado nos vários grupos sociais. Ademais, a sociologia do conhecimento não procura desmascarar a ideologia, mas sim expô-la como ela age em todos os níveis e grupos sociais. Esse desvelamento pode ocorrer na distinção das concepções do particular e total da ideologia. O papel da sociologia é descobrir a ideologia que perpassa numa situação social e na determinada perspectiva ou consciência coletiva.
O pensador húngaro Karl Mannheim propôs uma distinção entre ideologia e utopia. Entende por ideologia, “as convicções e ideias dos grupos dominantes e os fatores inconscientes de certos grupos que ocultam o estado real da sociedade para si e para outros, exercendo, portanto, sobre eles função conservadora”. E o conceito de utopia de Karl Mannheim é bem oposto da ideologia. Assim, ele conceitua a utopia: “Existem grupos subordinados tão fortemente empenhados na transformação de determinada condição social que não conseguem perceber na realidade senão os elementos que eles tendem a negar”. Então, o pensamento ideológico é incapaz de um diagnóstico correto da sociedade que pretende transformar segundo seus planos.
No fundo, para Karl Mannheim o pensamento de tais grupos nunca constitui uma visão objetiva da situação, podendo ser usada como elemento motivador de uma ação. A ideologia é o pensamento conservador que se ergue em defesa dos interesses adquiridos e da posição social conquista. Já a utopia é um pensamento social voltado para destruir esta ordem social dominadora. Neste raciocínio, a ideologia é o pensamento da classe superior, que detém o poder e procura não perdê-lo. E a utopia é o pensamento da classe inferior, que visa libertar-se das opressões e tomar o poder. Assim, para Mannheim a utopia é projeto realizável, ainda que de forma prematura.
No Brasil há uma situação de desrespeito aos direitos humanitários tão evidente, a ponto de diminuir o papel político da nação diante do mundo. A perda de credibilidade deve-se a muitos fatores ligados a situação política que aumentou a desigualdade social, violência contra os pobres, negros, índios, marginalizados, desempregados, subutilizados e outras minorias. Esta situação social fortalece a ideologia da classe superior que ao longo da história sempre tiveram decisões políticas e econômicas favoráveis aos seus interesses dominantes e opressores. Para reverter essa situação ou equilibrar as forças das classes sociais, com base nos conceitos de Karl Mannheim é preciso uma intensificação por um conhecimento científico e consciência crítica. Mas, no Brasil a situação precária das universidades e escolas pela falta de financiamento público, a proposta de Karl Mannhein não passa de uma utopia. Por outro lado, a situação que se encontram milhões de jovens brasileiros sem condições para os estudos não deixa de ser ideológica, portanto, pensada e planejada pela classe superior em seu benefício próprio, infelizmente.
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