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Na medida das escolhas

Miguel Debiasi

Um dos casulos humanos do terceiro milênio é a liberdade. A liberdade enclausurada na subjetividade das pessoas é um largo campo para o individualismo prosperar. Associada ao livre-arbítrio e na ausência de responsabilidade esconde um risco às gerações futuras.

A liberdade penetra iniludivelmente pelo ar que se respira. Em contexto pós-moderno respira-se a liberdade de escolhas. Para qualquer pessoa é quase impossível ignorar a realidade de absoluta liberdade. No entanto, valorizá-la é desafio humano. Dessa maneira, para enaltecê-la é preciso devida consciência de seus limites e suas responsabilidades. Primeiramente, a verdadeira liberdade dá-se pelas relações de respeito ao outro. Viver nesta imprescindível condição é suporte da verdadeira liberdade. Assim, a liberdade é capaz de assegurar respeito e felicidade para as pessoas. Quando a liberdade encontra este campo de atuação pode mudar cidadãos, a comunidade e a sociedade.

Obstante, o percurso da verdadeira liberdade alcança a consciência dos próprios limites e da responsabilidade. Os antigos filósofos gregos contribuirão para a compreensão da liberdade. Platão entendia que para viver como cidadão livre era preciso aspirar ao máximo de entendimento e conhecimento. A condição de livre agir do cidadão consistia em conhecer seus próprios limites humanos. Por conseguinte, para um cidadão chegar ao conhecimento precisava superar o mundo sensível, do prazer e dos sentidos para alcançar o mundo inteligível. Já Aristóteles, seu conterrâneo, valorizava o mundo sensível quando contribuiu no conhecimento e na formação das ideias. Em suma, para ambos o valor da vida humana está no mundo inteligível. Logo, somente no conhecimento chega-se à ideia plena da liberdade. Dessa forma, a vida humana deve voltar-se para a verdade, pois é nela que a pessoa supera a ignorância, obstáculo para a liberdade.

Sendo assim, em tempo de livre-arbítrio todo indivíduo consciente pode escolher livremente e legislar para o bem coletivo. Portanto, o legislador tem a responsabilidade dos seus atos diante do outro. Ademais, na ausência da liberdade de escolha não há responsabilidade. Por isso se compreende que o necessário para o indivíduo agir com responsabilidade é a compreensão de sua liberdade. E por isso mesmo, a medida das escolhas é de responsabilidade do ser humano, fazendo da liberdade o melhor comportamento possível. Então, para a superação dos casulos do tempo pós-moderno como o individualismo, a indiferença, a intolerância, a discriminação e o racismo, espera-se pelo agir mais significativo da liberdade. Mas há mais que isso, a felicidade pessoal e a dos outros passa pelo bom entendimento da liberdade. 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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