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Meu fetiche de Natal

Vanildo Luiz Zugno

Símbolo ou fetiche? A distinção nem sempre é fácil. Muitas vezes o que queremos afirmar com uma das palavras se confunde com o que a outra quer dizer. Ainda mais nestes tempos de imprecisão linguística em que tudo o que é dito pode ser desdito ou entendido de forma totalmente diferente do que é.

Tentando uma aproximação, podemos dizer que símbolo é algo concreto que, por convecção ou analogia, indica algo abstrato. A cruz é símbolo do Cristianismo; a pomba representa a paz; a meia luz crescente o Islã; a foice e o martelo o comunismo; a suástica o nazismo.

Já o fetiche, é algo real e tangível que pretende substituir algo inalcançável. Coube a Sigmund Freud introduzir o conceito de fetiche na análise psicológica. Segundo ele, quando alguém não consegue alcançar o prazer sexual através de uma relação amorosa, pode dar-se prazer com algum objeto que simule a pessoa desejada ou em alguma parte de seu corpo que substitui o todo.

Freud não inventou este conceito do nada. Ele o buscou na etnologia que, desde o séc. XVIII, já o usava para caracterizar as religiões não ocidentais que apresentavam suas divindades agindo em lugares e objetos materiais. Charles de Brosse, primeiro etnólogo a utilizar o termo em um estudo dito científico, provavelmente tenha se inspirado na “caça às feiticeiras” dos séculos que os precederam. Afinal, “feiticeira” é a pessoa que é capaz de fazer com que objetos do quotidiano tenham qualidades divinas e, no limite, seja ela capaz de transformar algo material em sobrenatural.

De forma simples podemos dizer que o símbolo indica uma realidade que é diferente dele e o fetiche substitui esta realidade tomando o seu lugar e suas propriedades. Daí a pergunta que nos vem nestes dias que antecedem o Natal: quais são os símbolos natalinos mais populares? Tente fazer essa pergunta a si mesmo e às pessoas que estão ao seu redor. Pinheirinho, Papai Noel, trenó, renas, peru, chester, panetone, pacote de presente com fita vermelha e verde... serão as respostas mais comuns. Símbolos ou fetiches? No rigor do termo, fetiches. Eles substituíram e roubaram as propriedades daquilo que o Natal representa.

De fato, o menino que nasce em Belém, filho de Maria e de José, é o símbolo da presença salvadora no meio de nós. Ele mostra no concreto de sua fragilidade o projeto de Deus-Javé de libertar seus pequenos da escravidão do Egito, da Babilônia, da Assíria, do Império Grego, do Império Romano e, hoje, do império do consumo capaz de roubar até mesmo a esperança dos empobrecidos.

Queremos Natal, sim. Com muita festa, com muita alegria. Um Natal com seus verdadeiros símbolos: Maria, José, o Menino, o boi, o burro, os pastores, os anjos... Para que eles tenham lugar no presépio de nossas casas, cidades, de nosso país e do mundo, é preciso que nos livremos dos fetiches do capital. Um grande desafio natalino! Que possamos encará-lo com coragem e esperança.

FELIZ NATAL!

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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