Fratelli Tutti – Diálogo, consenso e verdade.
É muito provável que você já tenha sofrido alguma agressão nas redes sociais. Eu já sofri. Muitos amigos e amigas minhas passaram por isso. Segundo dados da Intel Security, 66% das pessoas afirmam ter presenciado, cometido ou sofrido o chamado cyberbulling. Índia e Brasil são os países onde a agressão virtual é mais presente. Agressões de todos os tipos e razões. Em função da idade, do sexo, do gênero, da raça, da cor, do peso, da altura, da origem, do sotaque... Há também as agressões por causa da cultura, da religião e da opção política. Agressões pessoais e agressões sociais.
Diante de tanta violência virtual, a reação de muitas pessoas é culpar as redes sociais. Ledo engano. Quem pensa assim está errando o alvo. O problema não são os meios. O problema são os seus utilizadores. Se olharmos a internet de modo geral e, especificamente as redes sociais, elas são um fantástico meio de comunicação e interação. Muitos fizemos a experiência de, através deste meio, reencontrar amigos e parentes que há muitos não víamos e construir novas relações e que de outra forma jamais teriam sido possíveis.
Por que então nelas há tanta violência? A raiz da violência não está nas redes. A violência radica na cultura e na realidade violenta de nossa sociedade. Ela é transferida para o meio virtual que, através do anonimato, da rapidez e da falta de limite, potencializa ao infinito as práticas de agressão que existem no cotidiano.
Sair das redes sociais é uma alternativa. Mas ela não resolve. A solução – se queremos uma fraternidade universal e a amizade social como propõem o Papa Francisco na Fratelli Tutti – é engajar-se na construção da cultura do diálogo. Falar e ouvir sem agredir. Falar aquilo que está no coração. Não é preciso esconder as convicções que carregamos conosco. Mas dizê-las calma e serenamente, com argumento e fundamento. E escutar a palavra do outro, a sua verdade, admitindo sempre a possibilidade de que ele possa ter razão. E, nas duas ou mais verdades que se encontram – há sempre mais de duas formas de ver as coisas! – todos crescemos e avançamos para um mundo melhor.
Um modo de relacionar-se que perpasse todas as dimensões sociais. Desde as mais próximas – familiares, de vizinhança, escolares, amicais – até as mais amplas como as econômicas, culturais, políticas e internacionais.
Nesse diálogo sincero, certamente será possível construir consensos mínimos que possibilitarão a convivência entre as pessoas, os diversos grupos sociais, as culturas e as nações. Sem consensos não há possibilidades de vida social. Sem consensos, voltamos ao estado de selvageria primitiva em que o mais forte impõe sua verdade sobre o mais fraco. O resultado desta opção é a paz do cemitério ou uma guerra sem fim.
Além de possibilitar a vida em comum, o consenso é o ponto de partida para avançar rumo à busca da verdade que mora no mais profundo do humano. Ela pode ser encontrada pela razão ou pela religião. São dois caminhos que não se opõem. Eles se complementam. No equilíbrio do caminhar sobre dois pés, razão e fé conduzem a humanidade a bom destino e nos livram de três tipos maléficos de verdades: as verdades absolutas, as verdades relativas e as verdades alternativas.
Dialogar, sempre e em todo lugar. Buscar consensos no bom senso. Caminhar, junto com os outros, rumo à verdade que nos antecede. Três diretivas para um mundo pacífico e fraterno.
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