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Da prisão ao cilício, ao consumo, ao...

Miguel Debiasi

            O corpo pode ser compreendido de vários pontos de vista. Para os cristãos o corpo é algo sagrado, obra do Criador. Para os filósofos gregos o corpo é a prisão das ideias. Na verdade, vive-se a vida num corpo. Por essa razão, o corpo é um espaço de relações humanas, sociais.

            Para o filósofo grego Platão o corpo é o espaço que aprisiona a alma. Quase toda a filosofia grega, além de Platão, também defendia esta ideia. Contudo, era algo que se deveria aceitar, mas que não fazia parte da realidade do ser humano. Por conseguinte, rejeitava os sentidos por ser o aprisionamento das ideias, da alma. Por essa razão, nada era mais nobre que a capacidade de pensar. Logo, somente a capacidade racional penetra no conhecimento da realidade além dos limites físicos do corpo.

            O cristianismo também contribuiu com este pensamento da filosofia grega. A teologia da cristandade colaborou para esta visão ao pregar que a perfeição humana acontecia pelo espírito emancipado do corpo. Com base nesta teologia as pessoas se submetiam a práticas de mortificação do corpo. Segundo historiadores, São Francisco de Assis jogava-se sobre os espinhos de roseiras, dormia sobre pedras, comia cinzas e passava fome para a mortificação do corpo. Até há pouco tempo praticamente todos os movimentos religiosos ocupavam-se do cilício, do jejum, da abstinência e de outras formas de sacrifício corporal em vista do crescimento espiritual. O cilício era uma túnica, cinto ou cordão de crina que se trazia sobre o corpo para mortificação ou penitência. Isto é, uma veste que mostra desprezo pelo corpo e apreço pela alma.

            Quanto a esta visão, na Bíblia não existe a dualidade do ser humano, ou seja,corpo e alma em conflito. Corpo e alma são um todo da vida humana. Daí que a oração de Jesus não é um exercício especulativo da atividade intelectual. Para Jesus o cuidado com a vida corporal é algo sagrado. O corpo não é causador do pecado e do mal. O corpo ocupa um lugar central nas relações humanas. Prova disto é que Jesus cura as pessoas de qualquer doença física e tormenta psíquica, emocional.

            Enfim, nossos contemporâneos veem no corpo uma oportunidade de consumo, de estética, de publicidade e de motivo de preocupações da cabeça aos pés. A nova cultura faz do ser humano um escravo do próprio corpo. É um comportamento oposto ao da visão dos filósofos gregos e da doutrina cristã de outrora. No fundo, para a socialização da dignidade humana como um todo é preciso a superação dos extremos das visões sobre o corpo. Logo, olhar para a atitude de Jesus é a condição de superação destes paradigmas. Nele ver que a vida deve estar integrada em todas as suas dimensões. Isto é de suma importância para a valorização das relações humanas, sociais, culturais.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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