Conhece-te a ti mesmo
“O ser humano é uma caixinha de surpresas”. Em muitas oportunidades ouvimos esta expressão. Geralmente, refere-se a atos e feitos que surpreendem a capacidade de imaginação. E, parece que quem os praticou não foi um ser humano. Dessa forma, procede acreditar que, enquanto existir o ser humano, tudo é possível acontecer, até coisas inacreditáveis. No entanto, para engrandecer as relações sociais e comunitárias, desvendar o potencial próprio é questão pertinente.
Algumas expressões ditas com profunda sabedoria chegam a perpassar séculos de história da humanidade. O suporte desta validade histórica está na própria originalidade da expressão nunca antes usada com tanta propriedade. Ao apontar entre muitas expressões ditas por personalidades que ficaram conhecidas pela sua sabedoria, uma é do filósofo grego Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Antes de adentrar na expressão é preciso dizer que há muitas formas de conhecimento, uma é a filosófica.
O conhecimento filosófico tem como base a interrogação. Como base usa o questionamento, o pensamento, a razão, diferentemente do conhecimento científico, que tem como finalidade a experimentação. Então, o conhecimento filosófico busca tirar conclusões sobre as coisas, a vida, o universo, valores, ultrapassando limites da ciência da experimentação. Seu grande objetivo são as ideias, buscar a verdade, o sentido último de tudo. Nesta lógica, vale desvendar o conhecimento sobre o ser próprio da pessoa.
Nesta reflexão de conhecimento do ser humano, Santo Agostinho diz que a finalidade do homem, enquanto ser racional, é a busca da verdade. Para Agostinho a verdade é definida com sendo o Verbo de Deus. Isto é, a partir da iluminação divina, o homem recebe de Deus o conhecimento da verdade. Dessa maneira, o homem somente chega à verdade com a mente purificada. Logo, a busca pelo conhecimento de si mesmo é uma verdadeira peregrinação, pela qual o homem exterior ou material cede lugar ao homem interior, espiritual. Isto é, só no homem interior habita a verdade: Noli foras ire, in teipsum redi: in interiore homine habitat veritas.
Para Santo Agostinho, o apelo socrático “conhece-te a ti mesmo” configura-se na descoberta da interioridade, entra na intimidade do homem. Então, conhecer-se a si mesmo vai além do perceber as coisas exteriores. É necessário penetrar naquilo que é o homem interior, o mundo decisivo. É justamente neste mundo que Deus reside e se encontra. Assim sendo, para o conhecimento de si mesmo é preciso ser atraído por essa verdade interior. Então, quem se conhece na sua interioridade não se deixa alienar, é capaz de fazer a diferença nas relações. No próximo artigo daremos continuidade ao assunto com o tema da generosidade.
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