As vozes da diferença
Historicamente ouvimos as vozes do Norte, a estas atribuímos muitíssima importância, uma espécie de voz sagrada, irretocável. Há razões para tanto. Mas continuar ouvindo uma única voz não é muito prudente. Hoje, outras vozes têm feito a diferença em nível planetário.
A Europa nos fascina e nos seduz. Situada em três hemisférios diferentes – Setentrional (Norte), Ocidental e Oriental, a Europa é o continente que mais influenciou a cultura dos povos ocidentais nos últimos séculos. Constituída por um conjunto de 50 países, sendo dois presentes também na Ásia – Turquia e Rússia, a Europa venceu crises e se fortaleceu como comunidade e bloco econômico.
A bandeira do continente europeu transmite suas poderosas pretensões políticas, econômicas e culturais. Constituída por um círculo que contém 12 estrelas sobre um fundo azul, busca representar a unidade, solidariedade e harmonia do continente e entre os povos europeus. Consagrada como palco de acontecimentos mais marcantes para o Ocidente e para a humanidade, a Europa tenta prolongar esse seu legado.
Os povos gregos e romanos contribuíram com a história da Europa de forma extraordinária. Aos gregos é atribuída a formulação das ciências da matemática, da filosofia, da política, as formas de governo, como a democracia, sistema que prevê a participação de todos os cidadãos nas decisões públicas da cidade e Estado. Das muitas contribuições dos romanos destacamos: as teorias do direito, arte, literatura, arquitetura, tecnologia, religião, governo, linguagem, cultura e conhecimento.
Nossa história é contada a partir do nascimento de Jesus Cristo, pelo qual, estabelece-se a divisão temporal a. C. e d. C., evento ocorrido durante o Império Romano. O cristianismo tido como a religião oficial romana é uma herança imensurável, haja visto que esta é a maior religião do mundo na atualidade. Com a decadência do Império Romano, no século IV a. C., outros impérios buscaram controlar o continente, como os bizantinos e carolíngios. Essa disputa leva a Europa a um processo de ruralização, dando início ao sistema do feudalismo.
No período da Idade Média, que durou aproximadamente mil anos, entre os séculos V e XV, a Europa vivenciou uma intensa religiosidade cristã, sofreu as invasões dos árabes, peste bubônica e impôs as Cruzadas e Inquisição religiosa. Os críticos definem a Idade Média como “Idade das Trevas”, mas ela promoveu avanços científicos, inovações tecnológicas, valores culturais, artísticos, artistas consideráveis como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael de Sanzio, Donatello e Sandro Botticelli.
Neste período, ocorreram os movimentos por reformas religiosas que divide o continente europeu com a Reforma Protestante e a consolidação de novas religiões do calvinismo, protestantismo e anglicanismo. Ainda ocorrem as grandes navegações onde europeus buscam novos territórios e expandem seu domínio como na América, África e Ásia, inaugurando-se uma nova etapa da história mundial e da colonização.
Com a Idade Moderna vieram as Revoluções Inglesa, Francesa e a transição do poder político centrando nos reis para um Parlamento, para a burguesia. Com as Revoluções Industriais resulta o êxodo rural, formação de cidades, poluição ambiental, precarização das condições trabalhistas, pobreza social, modificando a Europa. Desse contexto econômico, político, social e cultural, surgem os pensadores críticos ao sistema como Karl Marx, as duas classes sociais, a burguesia e o proletariado.
No final do século XIX com a necessidade de matéria prima para suas indústrias, os europeus partiram para novas expansões e conquistas territoriais. Este imperialismo e neocolonialismo suscita acirramento pelas disputas territoriais entre os países europeus e com a exploração de novos continentes, africanos e asiáticos provocaram as Guerras Mundiais do século XX.
A história do continente europeu é de conflito, instabilidade, rivalidades ideológicas e de disputa por território, governos e capital. Pela sua complexidade territorial (Europa Setentrional, Europa Ocidental, Europa Meridional, Europa Oriental), somada a política, ideológica e econômica tem enfraquecido o continente no cenário geopolítico.
África do Sul, continente que viveu na metade do século XX a dramática cisão social com os regimes autoritários do Apartheid ou da separação entre brancos e negros de forma violenta, perversa, cruel, hoje, ergue a voz condenando o genocídio do povo palestino, promovido pelo primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Ao pedir aos órgãos mundiais competentes a punição ao país de Israel pelo genocídio do povo palestino, África do Sul não quer passar adiante sua história sofrida de 300 anos de violenta dominação branca. Mas pede uma política mundial justa e ética para que toda humanidade se sinta em casa independente do país que reside. O mundo precisa ser um lugar mais humano gritava Desmond Tutu, arcebispo da Igreja Anglicana, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984, por sua luta contra o Apartheid que terminou somente em 1991, regime que manteve por 27 anos preso político seu maior líder, Nelson Mandela.
O austríaco criador da psicanálise, Sigmund Freud, espantado com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, em seu escrito O mal-estar na civilização, afirma “que após chegarem tão longe na dominação da natureza fossem capazes de exterminarem-se até o último deles”. Freud está dizendo que a barbárie humana não tem limites, infelizmente.
A violência e o ódio têm força de extermínio do outro. Os países da Europa parecem que tem devoção ao sofrimento e a guerra. Parece-nos tudo muito irracional a dominação do Outro, uma luz triste que iluminou o que há de mais objeto no ser humano. O grito das autoridades da África do Sul desmascara as autoridades europeias e norte-americanas que financiam o genocídio do povo palestinos, levando mais de 30 mil mulheres e crianças a morte. O povo palestino tem sofrido uma opressão e violência sistemática nos últimos 76 anos. Alguém precisa erguer a voz, gritar para as autoridades e órgãos mundiais competentes, basta de genocídios de povos e pobres.
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