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As novas catedrais

Miguel Debiasi

Rezar extramuros das igrejas, sinagogas, mesquitas e templos é uma prática comum de nosso tempo. Em avenidas, ruas ou estádios de futebol se fazem prédicas e rezas para uma multidão de pessoas. O louvável de tudo isto é o homem que reza a Deus. Contudo, a relação que se estabelece com Deus nessas prédicas e rezas é hoje desafio de reflexão teológica.

Nos primeiros anos do cristianismo os cristãos rezavam nas casas, nos porões e às escondidas com medo da prisão, de torturas e até da morte cruel. Na liberdade de manifestar publicamente a fé em Cristo, os cristãos iniciam a construção de igrejas, templos, catedrais e de enormes basílicas. Roma é o berço da construção de igrejas, catedrais, e das chamadas Basílicas Papais: São João de Latrão, São Pedro, São Paulo e Santa Maria Maior. São as quatro maiores basílicas do mundo. A de São João de Latrão é a mais antiga e mais importante e leva o título de “Omnium urbis et orbis ecclesiarium mater et caput”. Isto é, Mãe de todas as igrejas de Roma e do Mundo. Foi construída entre anos de 314 e 335. A Basílica de São Pedro é a maior igreja do cristianismo. Foi construída sobre o túmulo de Pedro, crucificado no ano 64 durante o governo do imperador Nero. A construção foi ordenada pelo imperador Constantino trezentos anos depois da morte de Pedro. Atualmente, as citadas basílicas são os locais mais visitados pelos cristãos.

No segundo milênio do cristianismo, grandes catedrais foram erguidas pela Europa. São catedrais de características góticas que possuem traços de arquitetura diferenciada em relação ao estilo românico, com impulso vertical e com muita luminosidade. Graças a técnicas arquitetônicas introduziram as abóbadas em ogiva, apoiadas sobre robustos pilares que permitiram elevar a altura das catedrais. Este traço característico em direção ao céu exprime uma linguagem universal de convite à oração rumo ao alto, do elevar-se a Deus. Os próprios vitrais pintados, com muita luminosidade, narram a história da salvação em que Deus derrama-se sobre os fiéis e os envolve em seu amor. Com seus traços arquitetônicos as catedrais góticas expressavam uma harmonia entre a fé e a arte por meio da linguagem universal da beleza que ainda hoje suscita muita admiração.

Muitos elementos da cultura e arquitetura gótica poderiam ser destacados por fazerem das catedrais uma verdadeira “Bíblia de pedra” que há séculos representa uma comunidade cristã e civil percorrendo o mesmo itinerário, o da salvação. Nelas participavam os humildes e poderosos, os analfabetos e doutos, porque todos eram instruídos na casa comum, da fé. Hoje, os estádios de futebol viraram "catedrais". Certamente menos imponentes, pobres em arquitetura, de linguagem e de rito fanático. Na verdade, locais onde se glorifica ao Senhor não pelo mistério da salvação, mas pela vitória de seu time. Nos estádios, a oração não é pela realização do mistério do Cristo sofredor, que inspira mudança de vida e arrependimento pelos pecados, mas feitas com uma única intenção, pedir a vitória do time. Nesta postura treinadores, jogadores e torcida fazem suas orações. É algo a ser refletido pela Teologia.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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