A sociedade laica e o governo ‘religioso’
Entre as conquistas da sociedade moderna está a separação do poder político do religioso. Em boa medida, a independência da interferência poder espiritual tornou-se sinônimo de uma sociedade moderna-secular-laica. Muito favorável a este modelo de sociedade, a Igreja na sua sabedoria buscou valorizar a missão proposta pelo Evangelho. Fiel ao Evangelho, a Igreja tem-se posicionado de forma profética frente aos contextos locais e mundiais, denunciando fatos que vão contra os princípios éticos, políticos, democráticos, ecológicos, religiosos.
O papa Paulo VI na encíclica Populorum progressio, publicada em 1967, sublinhava o fato da sociedade moderna alargar os projetos dos humanos. A sociedade moderna almeja uma comunidade humana e universal livre. No entanto, este projeto encontra grandes dificuldades devido a inúmeros problemas sociais, na sua maior parte, agravados pela lógica mercantil da sociedade e do sistema de capital. A lógica mercantil implicou de ipso facto do empobrecimento material e das relações humanas. Por conseguinte, é da lógica mercado a exploração, o desiquilíbrio social ao concentrar nas mãos de poucos sem a redistribuição de bens. No dizer do papa Bento XVI na encíclica Caritas in veritate, o mercado articula-se na política antissocial, protege a prepotência do forte sobre o débil.
O protótipo da nova humanidade caracterizada de moderna, supervaloriza os poderes e projetos temporais pela a autonomia, sobretudo, da política e da economia do ensinamento e da palavra religiosa. Ainda que a Igreja entenda que a natureza da comunidade política, do sistema econômico e da sociedade moderna está em função das pessoas. Sem dúvida, quando todos os indivíduos forem atendidos em suas necessidades básicas e sem discriminação, estará a política, economia e o pensamento moderno cooperando com o projeto do Evangelho de Cristo. Pois, a ação do Evangelho visa a dignidade das pessoas, em sua dimensão material e espiritual (Mateus 25,31-46). Logo, o protótipo da nova humanidade baseado na centralidade da pessoa e nas estruturas temporais, poderá contribuir para assimilação dos princípios evangélico e religioso.
A emancipação da comunidade política e sociedade civil, diga-se de uma conquista que não se contrapõe aos valores e ao ensinamento cristão. Como bem sabemos, o Estado, governo, poder executivo, legislativo e judiciário tem funções de assegurarem o bem comum e as condições para a dignidade de todas as pessoas evitando todo tipo de discriminação social, política, cultural, racial. Em razão desta obrigação constitucional com o povo, é fundamental que as ações destas instituições públicas prevaleça sobre os mais indefesos. Aplicação destes princípios constitucionais estão em consonância com aquilo que prega a Igreja e o Evangelho de Cristo (Marcos 9,41). É dessa maneira que as decisões do Concílio Vaticano II, pela Declaração Dignitatis humane, empenhou a tarefa da Igreja para um maior diálogo com a sociedade moderna e com suas estruturas temporais e independentes das religiosas.
A vocação da Igreja, segundo o Evangelho, anuncia a mensagem de Cristo aos povos da terra (Marcos 16,15-20). A isso, no entanto, não faz da Igreja uma comunidade humana submissa aos poderes políticos e as vontades dos governantes. Em respeito aos princípios constitucionais e institucionais, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), repudiou em nota a atitude do governo federal e do presidente da república em cooptar apoio de grupos católicos em troca de verba estatais. A proposta do governo e do presidente visava que canais de rádios e TVs, sob controle de grupos católicos, noticiassem os fatos favoráveis ao governo federal em troca de verbas estatais. A iniciativa fere a natureza de ambas instituições, sobretudo, sonega a mensagem do Evangelho. Contudo, o profetismo da Igreja repudiou o ato governamental por meio de uma nota, que dizia: "Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, que é tornar o Reino de Deus presente no mundo”.
O profetismo da Igreja está indicado por Jesus, como do afastar-se de todo poder político (Mateus 20,24-28). Para iluminar os interesses de grupos católicos que acreditam num ‘governo religioso’, enquanto a sociedade civil preza pela laicidade, basta assumir as posições do Magistério da Igreja. A solicitude do Magistério da Igreja ressalta da exigência e a observância ao Evangelho. Sem a fidelidade evangélica não tem sentido os meios de comunicação como de rádios e TVs, identificados com a doutrina da Igreja católica. A mass media católica, só tem uma única razão de existir: a propagação da boa notícia de Jesus aos pobres e da sua libertação (Mateus 5,1-12). Obviamente, um rumo bem diferente ao do atual governo federal.
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