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A paz social e o protagonismo brasileiro

Miguel Debiasi

Seria de suma importância a todos os brasileiros que temas essenciais tratados na Constituição Federal motivassem os debates eleitorais e as escolhas políticas. Todo cidadão e cidadã deveria se interessar pelas questões políticas, seja as particulares ou as nacionais e, como do todo, do mundo. No cenário nacional atual há um desafio maior: assumir uma política adulta que começa pela práxis social da paz e do protagonismo na geopolítica mundial.  

A ciência da filosofia refere-se diretamente a situações históricas, refletindo as instâncias que emergem para a vida de um povo. Os contextos e os condicionamentos históricos como os políticos, sociais, econômicos, religiosos, culturais, psicológicos e outros, não são os únicos fatores que contribuem para o desenvolvimento de um pensamento filosófico. A filosofia é também fruto da genialidade e capacidade de seus personagens, seus autores. Como diz um célebre provérbio latino primum vivere, deinde philosophari – primeiro viver e depois filosofar. Assim é pensada a ciência política, respondendo as realidades humanas e aos contextos históricos com as melhores perspectivas para o conjunto da coletividade, da população.

Platão em sua reflexão política procurou considerar elementos para um Estado ideal. A política grega é resultante da organização do Estado. Ela advém da necessidade dos indivíduos estabelecerem leis, regras, ordenamento para a convivência coletiva mais pacífica e justa, equilibrando os mais diversos interesses da cidade ou dos grupos sociais que vivem no mesmo espaço. O pensamento de Platão acabou por influenciar as questões relacionadas à religião, religiosidade e espiritualidade da cultura ocidental. Bem como, o Estado Democrático de Direito Moderno conduzido segundo os mais nobres valores civilizatórios, como do ético-político-educativo.

O sacerdote dominicano e teólogo peruano Gustavo Gutiérrez (1928) escreve que é contemporâneo de um ser humano assumir cada vez mais consciência de ser sujeito ativo na história, participar na transformação das estruturas de repressão e na efetiva gestão política. Na consciência histórica contemporânea a política não é algo que se dê atenção de forma esporádica, mas uma atividade permanente. A construção de uma nação soberana e de um povo livre, a partir das bases de um Estado Democrático de Direito, abrange a tarefa diária de todo o cidadão e cidadã. O exercício da cidadania, da consciência e da liberdade crítica eleva o sentido da política e orienta o poder em sua função governamental.

O método de condução do Estado Democrático Brasileiro está longe de proporcionar um elevado nível de consciência e participação coletiva. As decisões políticas ficam restritas nas mãos das elites destinadas ao governo. Por outro lado, observa-se o chamado fenômeno da “politização” das classes oprimidas, sobretudo das minorias e das maiorias minorizadas ou de grupos sociais marginalizados e excluídos que lutam por democracia participativa, justiça social e outros benefícios coletivos. A “politização” defronta-nos com uma crescente radicalidade social, cultural, política, econômica e religiosa, que historicamente privilegiou alguns grupos sociais.

A tomada de consciência das classes oprimidas e do caráter conflitante da política é antes de tudo uma lucidez e coragem de estabelecer a paz e a justiça entre os cidadãos da nação. O cidadão e a cidadã brasileira começam a perder a ingenuidade diante das estruturas políticas públicas sociais e denunciar os condicionamentos históricos a exigir mudanças radicais. Os vitoriosos do pleito eletivo de 2022 precisam substituir seus projetos pessoais e partidários pela tarefa de construir uma sociedade justa que promova uma revolução social baseada na justiça distributiva. Via organismos democráticos, abolir um ordenamento social que há 500 anos perpetua as desigualdades de todas as naturezas em favor de poucos privilegiados. Tal anseio soberano dos eleitores ficou demonstrado com clareza na eleição de seus representantes políticos e governantes.

A ideia de um novo pacto social entre governo federal e os brasileiros já é perceptível além-fronteiras, as nações reagem positivamente vislumbrando nos eleitos uma nova condução política no Brasil. A reconciliação do Brasil com os países do mundo não é uma ideologia e nem questão partidária, mas a postura e a consciência de exercer um papel político protagonista em questões de caráter global. A reconciliação com os países do mundo tem uma indiscutível dimensão política mais exigente frente aos conflitos mundiais, consequentemente, com insistência em aspectos que promovam bem comum a população mundial e o desenvolvimento das nações. Com efeito, ser presidente do Brasil é aceitar esse papel estadista protagonista e promover a geopolítica da cooperação e solidariedade entre os países e povos.

A comitiva brasileira do presidente eleito, ao participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 – COP-27, a convite do presidente do Egito, Abdel Fattah Saeed, marca o retorno do protagonismo ambiental do Brasil. A confiança internacional no presidente eleito do Brasil já levou a Alemanha e a Noruega a anunciarem o retorno do Fundo Amazônia, liberando o recurso de 500 milhões dólares que foi congelado em 2019 devido ao governo federal enfraquecer as medidas de proteção ambiental. Da mesma forma, a Indonésia já propõe ao Brasil a cooperação ambiental em desenvolvimento sustentável, transição energética e a proteção à biodiversidade. Outros países demonstraram também a vontade de estreitar as parcerias com o Brasil, a exemplo dos EUA.  

Nas primeiras iniciativas do novo governo federal renasce a esperança de paz e o protagonismo brasileiro a nível mundial. O caminho do novo governo é árduo, dado aos contextos e seus condicionamentos econômicos e socioculturais. Mas o novo governo começou assumindo a práxis política do cidadão contemporâneo, como sujeito da história e valorizando os cidadãos e o Estado Democrático e, abrindo diálogo com os países do mundo. Nessas condições, promove-se a paz social e o protagonismo político brasileiro.  

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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