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A notícia que não houve e aquela que emocionou

Gislaine Marins

 

Uma tranquila manhã de inverno. Uma turma de estudantes. Um plano que dá errado. Um incêndio que não causa vítimas. Um bandido que não mata a garotada. Um atentado impedido a tempo. E os heróis: os alunos, alvos do criminoso, que transformam a possível tragédia em uma notícia do mal que não aconteceu.

Um ônibus transportava, na semana passada, cinquenta e um alunos para uma atividade escolar nos arredores de Milão. Como em quase todas as escolas italianas, o grupo era formado por meninos e meninas, italianos e estrangeiros. A um certo ponto do trajeto, o motorista, senegalês naturalizado italiano, resolveu cometer o gesto abominável: embebeu o ônibus de gasolina, deu ordem aos professores que acompanhavam a turma para amarrarem os garotos e anunciou seu plano macabro de incendiar tudo em nome do ódio e da vingança pela morte de milhares de imigrantes no mar Mediterrâneo.

Eram jovens de 12 e 13 anos, mal saídos da infância. O grupo se organizou rapidamente e começou a fazer barulho, enquanto alguns, aproveitando o rumor dos colegas, começaram a pedir socorro aos pais e à polícia pelo celular. Uma mãe, incrédula, custou a acreditar no que o filho dizia: um professor já tinha morrido. Na verdade, sob o impacto dos acontecimentos, ele tinha desmaiado. Outro tentou entrar em contato com a escola e finalmente conseguiu avisar a polícia, que ativou imediatamente a operação de resgate. Os dois pequenos heróis são estrangeiros, um é egípcio, outro marroquino. Enquanto isso, um colega italiano se oferecia para ficar como refém em troca da vida dos amigos. Acabou com uma faca no pescoço e longos minutos de tensão, nos quais ninguém sabia o que o bandido seria capaz de fazer com ele e com os demais. Alguns, armados apenas de coragem e boas intenções, tentaram dialogar com o atentador, lembrando que ele não era o único estrangeiro, alguns alunos dentro do ônibus também eram e ninguém ali tinha culpa pela morte de inocentes. Descobriram-se mediadores na flor da idade: mais do que políticos e altos funcionários do Estado. Com esses gestos, ganharam momentos preciosos que possibilitaram a chegada da polícia, que quebrou os vidros do veículo e permitiu a fuga desordenada dos estudantes. Uma fuga sem regras, cheia de vida, que explodiu em um grito liberatório: "eu te amo!". Uma declaração lançada ao vento, à luz do sol, ao futuro, ao amor secreto e talvez primeiro amor, a todos, a ninguém, a quem quiser sentir amor, o bem maior da vida.

Que juventude maravilhosa, corajosa, amorosa, inteligente! Que vergonha para nós, adultos, não evitamos um episódio que poderia acabar em tragédia.

Não é a primeira vez que jovens nos dão o exemplo e que jovens são vítimas dos nossos erros. É assustadora a nossa inércia, a nossa incapacidade de interpretação dos fatos, a nossa dificuldade para a resolução de problemas. Pobres jovens nesse mundo difícil e que, no entanto, superam, apesar de todos os entraves que colocamos.

Quanto mais leio, mais me emociono e mais confio na geração de jovens que em breve assumirá seu lugar na sociedade. E me pergunto: mas nós, adultos, quando deixaremos de ser infantis e começaremos a trabalhar seriamente para a paz no mundo? Vamos ficar vendo o bonde passar e deixar displicentemente a responsabilidade nas mãos de quem deveria ser protegido e guiado por nós?

Sobre o autor

Gislaine Marins

Doutora em Letras, tradutora, professora e mãe. Autora de verbetes para o Pequeno Dicionário de Literatura do Rio Grande do Sul (Ed. Novo Século) e para o Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas (Editora da Universidade/Tomo Editorial). É autora do blog Palavras Debulhadas, dedicado à divulgação da língua portuguesa.

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