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Primeiro Domingo da Quaresma

por João Carlos Romanini

Subsídios exegéticos para a liturgia dominical - ano A - 01/03/2020

Foto: Divulgação

 

Primeiro Domingo da Quaresma

Evangelho: Mt 4,1-11

Primeira Leitura: Gn 2,7-9; 3,1-7

Sl 51,3-4.5-6a.12-13.14.17 (R.Cf.3a)

Segunda Leitura: Rm 5,12-19

 

Mt 4,1-11

Mateus estrutura seu relato em três partes: apresenta os atores (v.1-2), narra a tríplice tentativa de Satanás (v.3-10), e a conclusão (v.11).

Os personagens são: o Espírito, Jesus, Satanás, os anjos. O relato inicia com o Espírito conduzindo Jesus ao deserto e conclui-se com a presença dos anjos servindo-o. No centro da narrativa, Mateus apresenta as tentações de Jesus.

A mensagem teológica é percebida no significado messiânico da tentação, secundariamente na sua valência exemplar para cada cristão. Resumidamente, Jesus rechaça a submissão dos poderes espirituais aos fins terrenos; não aceita pleitear milagres divinos para se salvar; e a servir Satanás para dominar o mundo. Ou seja, a afirmação central do relato é a recusa do messianismo terreno.

Jesus, em Marcos é “impelido” ao deserto pelo Espírito, em Mateus ele é “conduzido”, “transportado”, o verbo indica um movimento em direção ao alto.

“Diabo” é uma palavra grega (diábolos) que substitui a expressão mais antiga “Satanás” (ha-satan, “o adversário”, em hebraico quase sempre com artigo). Diábolos quer dizer “aquele que divide”, ou melhor, “aquele que distrai”, que separa de Deus. É o exato contrário de sýmbolos, que designa uma realidade que une, que junta. Mateus o chama também “o tentador” (ho peirázon: v.3).

“Tentar” significa também “provar”, “examinar”. Diversos foram os tentadores de Jesus durante sua vida (16,1; 19,3; 22,18.35), a narrativa de Mt 4,1-11 fornece o escopo dessas diversas tentações. Segundo o NT emerge que Jesus tenha sido posto à dura prova durante toda a sua existência. Hb 4,15 vai resumir dizendo: “passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado”.

A narração dá a impressão de um debate bíblico entre Satanás e Jesus.

A sua retirada ao deserto é relacionada com o êxodo dos hebreus dos Egito e a permanência de Moisés no monte Sinai. O texto evangélico evoca as provas sofridas pelos descendentes de Jacó no deserto. As três citações se referem ao sinal do maná (Ex 16), da água (Ex 17) e ao dom da terra (Ex 23). Ora, enquanto os israelitas diante das duras provas do êxodo não souberam perseverar com confiança no socorro de Deus, Jesus se colocou à sua disposição, confiando firmemente na sua palavra.

Entre Jesus e o tentador a disputa é hermenêutica, tudo se joga sobre o “está escrito” (ghégraptai). Também o diabo conhece e cita ao pé da letra a Escritura, mas não para cumpri-la.

A primeira tentação é a do pão (v.3-4). Diante da sugestão diabólica Jesus, o obediente à Escritura, se reconhece “homem”, necessitado da “palavra que sai da boca de Deus”.

A segunda tentação é a do pináculo do templo (v.5-7). O diabo cita o Sl 91, omitindo algo. O texto integral diz assim: “Pois aos seus anjos dará ordens a teu respeito para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão nas mãos, para que teu pé não tropece numa pedra”. É o salmo que promete a cada pessoa de fé uma proteção angélica “em todos os caminhos”, isto é, na existência diária do ser humano; não uma espécie de confiança milagreira que tudo seja possível, como Satanás deseja induzir a acreditar.

A terceira tentação (v.8-10) é aquela do monte muito alto não localizado. É importante notar que para Mateus o “monte alto” é um topos literário (cf. 5,1; 17,1). Nesta terceira tentação faltam as palavras “Se és Filho de Deus”.  Os reinos do mundo efetivamente estão sob o poder de Satanás, até o momento em que seja concretizada a vitória messiânica (28,18).

Concluídas as tentações, “o diabo o deixou e anjos se aproximaram para servi-lo”. O serviço dos anjos (diakonéo) no contexto de Mt está conectado com a fome de Jesus. Ou seja, lhe oferecem comida, indicando, antes de tudo, o serviço à mesa. Também Israel durante o êxodo foi assistido pelos anjos (Ex 14,19; 32,34; 33,2).

Se associarmos as tentações de Jesus ao batismo, podemos colher uma proposta de sentido para existência cristã: cada filho e filha de Deus triunfaram do demônio.

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da

Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana:

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA

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