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Segundo Domingo do Tempo Comum

por João Romanini

Subsídios exegéticos Liturgia dominical - Ano B -17 de janeiro de 2021

Foto: Divulgação

Segundo Domingo do Tempo Comum

Dia: 17 de janeiro de 2021

Primeira Leitura: 1Sm 3,3b-10.19

Salmo: 39,2.7-10

Segunda Leitura: 1Cor 6,13c-15a.17-20

Evangelho: Jo 1,35-42

          

Evangelho

O texto deve ser lido dentro da unidade maior (Jo 1,19-2,11) que se apresenta como uma semana teológica, parafraseando Gn 1,1-2,4a. Assim, em Jo 1,19-28 se relata o primeiro dia: testemunho de João Batista diante dos enviados de Jerusalém. Em Jo 1,29-34 está o segundo dia: testemunho de João diante de Jesus, como Cordeiro de Deus, sobre o qual viu descer o Espírito. No terceiro dia (Jo 1,35-39) o Batista testemunha diante dos discípulos que aderem a Jesus. Já no quarto dia (Jo 1,40-42), André testemunha diante de Simão. No quinto dia (Jo 1,43-51) Filipe testemunha diante de Natanael. A culminância desta semana teológica acontece no sétimo dia, ou seja, no terceiro dia, ou dois dias depois do quinto dia (Jo 2,1-11) quando a glória plena de Jesus se revela e os discípulos creem nele (2,11).

Nesta semana teológica, a dinâmica geradora da comunidade de fé, é o testemunho. Num primeiro momento, é João que dá seu testemunho: “eis o Cordeiro de Deus”, conceito haurido de Ex 12 e Is 53. No segundo momento, os dois discípulos que passaram de João a Jesus, atribuem a ele o conceito de Mestre (Rabi). Um destes discípulos, depois de ter permanecido o dia na Sua presença, apresenta-O a Simão, como o Messias/Cristo. Se continuarmos a leitura na próxima perícope, Filipe o apresenta a Natanael como “aquele de quem está escrito na lei de Moisés e nos profetas” (v.45). Por fim Natanael o define como “rabi, Filho de Deus e rei de Israel” (v.49). Ao que o próprio Jesus completa: “vereis o céu aberto... sobre o Filho do Homem” (v.51 cf. Gn 28,12 – visão de Jacó). Como se percebe, é uma cristologia crescente que culmina com o testemunho dos discípulos e é completada pela palavra de Jesus.

A cena se dá onde João batiza. Ele, como o último representante da antiga Lei, dá testemunho sobre Jesus e, imediatamente, dois de seus discípulos, passam da antiga Lei para a pessoa de Jesus. João está parado e Jesus anda. Isto é, o papel de João está chegando ao fim, o Antigo Testamento cumpriu sua função. João dirá, logo adiante: “É preciso que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Agora inicia a missão de Jesus. Os fiéis do antigo Povo de Deus chegam a Jesus pelo testemunho de João e o testemunho dos que já aderiram é a dinâmica para trazer outras pessoas (cf. At 1,6-8). Assim, João (AT) entende que não deve formar discípulos para si, mas encaminhá-los ao verdadeiro esposo (Jo 3,29ss).

Os conceitos usados: Cordeiro de Deus, Mestre, Messias, etc. são conceitos pós-pascais, quando a comunidade relê Jesus à luz do AT. O cristão que tem esta fé passa tranquilamente da antiga Aliança para a pessoa de Jesus e está apto a testemunhar e assumir a missão de evangelizar. Esta dinâmica fica clara na ação daqueles que usufruíram do primeiro testemunho e levaram a missão de João até Natanael, passando por Pedro.

Assim, parafraseando o primeiro relato da criação, o evangelista mostra que a nova criação está acontecendo de forma plena na pessoa de Jesus. Claro, para isto conta o testemunho vindo do AT que prepara a missão de Jesus e este, por sua vez, requer a adesão dos discípulos que, agora, continuam a missão através do testemunho. Dir-se-ia: só pela adesão a Jesus, a plenitude da revelação de Deus (cf. Gl 4,1ss; Hb 1,1ss; Ef 1,10; Cl 1,19) a criação preconizada em Gn 1 chega à plenitude.

Relação com 1Sm 3,3b-10.19

Como os discípulos de Jesus, também Samuel faz a experiência de Deus que o chama para a missão. Assim como os discípulos chegaram a Jesus pelo testemunho de João, de André e de Filipe, também Samuel, ouvindo a voz de Deus, precisou do testemunho e da orientação de Eli. A verdadeira fé é um dom de Deus, mas este não cai do céu. Se expressa na comunidade e, para chegar à verdade, precisa do testemunho das pessoas disponíveis a Deus. Samuel teve sua fé amadurecida por Eli, os discípulos chegaram à verdade pelo testemunho de João e dos demais. Hoje, a verdadeira fé vem pelo testemunho da igreja, isto é, pelo povo que vive com autenticidade os valores revelados na Bíblia e plenificados na pessoa de Jesus Cristo.

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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