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Subsídio exegético para o 5º Domingo do Tempo Pascal

por João Romanini

Domingo 15 de maio de 2022 Ano C

Foto: Divulgação

SUBSÍDIOS EXEGÉTICOS PARA A LITURGIA DOMINICAL - ANO C

 

Quinto Domingo do Tempo Pascal

Dia 15 de maio de 2022

Primeira Leitura: At 14,21b-27

Salmo: 144, 8-13ab

Segunda Leitura: Ap 21,1-5a

Evangelho: Jo 13,31-33a.34-35

 

Na passagem dos v. 31-35 João associa a partida de Judas do Cenáculo com início do drama da Paixão de Jesus, que levaria à sua glorificação em céu. Jesus mesmo dá o anúncio aqui para os discípulos em tom alegre, porque já era iminente voltar para o Pai. Os discípulos não deviam afligir-se pelo seu afastamento momentâneo, mas permanecer unidos em seu amor, amando-se como irmãos e irmãs, para expressar sua pertença à comunidade messiânica fundada por ele.

vv. 31-32: “Agora o filho da humanidade foi glorificado, e também Deus foi glorificado nele”. Jesus retoma um tema anunciado na vinda dos gregos posteriormente à sua entrada em Jerusalém (12,23.28). A chegada dos pagãos preludiava sua morte-glorificação; agora a saída de Judas dá início à paixão e representa sinal do processo que leva Jesus à morte e, por meio dela, à glorificação. O título “filho da humanidade” refere-se sobretudo à figura humana histórica de Jesus, solidária com o destino humano, enquanto o “filho” absoluto na passagem paralela 14,13, enfatiza sua divindade. “Foi glorificado” (edoxasthē) expressa o momento decisivo da missão de Jesus e se refere de forma global à sua paixão-morte e ressurreição-ascensão, isto é para a elevação na cruz e para a glória do céu (cf. 3,14; 8,28; 12,32). É Deus quem glorifica o Filho, mas ele a si mesmo é glorificado na entrega voluntária do Filho para cumprir seu plano de salvação. No v.32 a glorificação de Jesus aparece subordinada à do Pai e se expressa no futuro: “Deus o glorificará”, com referência ao segundo momento de glorificação, que em breve aconteceria em sua ressurreição e exaltação no céu, em seu retorno ao Pai no primeiro dia da semana (20,1), ou seja, no domingo de Páscoa. Sob o ponto de vista confiante do evangelista, exatamente a hora mais obscura na vida terrena de Jesus se revela como a hora da glorificação.

v.33: “Filhinhos, só por pouco tempo estarei convosco, ... para onde eu vou, vós não podeis ir”. Jesus se dirige aos discípulos com este título (teknia) cheio de ternura, usado apenas aqui em Jo (sete vezes na primeira carta). Ele evoca a pregação feita anteriormente aos judeus (7,33-34; 8,21). Mas enquanto eles não o encontraram por causa de sua incredulidade, os discípulos/as o seguirão mais tarde (v. 36), para estar sempre com ele, porque conheciam o caminho (14,3-4).

v.34-35: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros...”. Jesus no contexto do tempo pascal pretende sancionar a Nova Aliança, que terá como estatuto fundamental o mandamento do amor. Ele resume a Lei mosaica em um único preceito, que será a marca registrada de sua comunidade. Os profetas haviam predito uma nova aliança, não mais escrita em tábuas de pedra, mas colocado no coração (Jr 31,31-34; Ez 36,24-28). Lv 19,18 também prescreveu amor ao próximo. Mas a novidade do mandamento de Jesus está na segunda parte do v.34: “Assim como eu vos amei, [Eu ordeno!] amai-vos também uns aos outros”. “Como” (kathōs) indica o fundamento do qual brota e sobre a qual esse amor repousa, que se expressa no serviço aos irmãos e irmãs com a disposição de um sacrificar até a própria vida, imitando seu exemplo. Jesus torna-se norma e fundamento, fonte e modelo do amor cristão autêntico. A nova Lei é o próprio Jesus, como sinal elevado que manifesta e exprime o amor de Deus. Essa relação amorosa mostrada por Jesus desafia o mundo e leva as pessoas a fazer sua escolha em favor da luz.

Dado o caráter particular da “hora de Jesus”, não se pode compreender interpretar em um sentido estritamente temporal os tempos dos verbos usados na perícope, ou seja, os aoristos dos primeiros versículos e os tempos futuros das últimas linhas. O aoristo edoxasthē é certamente escolhido em relação à saída do traidor. Precisamente com ela Jesus foi glorificado, a hora começou. Se, então, nos últimos versos fala-se da glória de Deus para o futuro, isso é explicado pelo caráter de correspondência que tem seu ato. É quase um futuro lógico (veja a frase introduzida por ei v.32), mas não exclusivamente; na verdade, esta ação é colocada no futuro e nele se prolonga. O ponto de vista principal é aquele da recíproca glorificação do filho da humanidade e Deus.

No v.32 euthys, imediatamente, volta a sublinhar que a glorificação operada pelo Pai retorna na ora na qual o filho da humanidade glorifica a Deus no modo mais elevado. Mas a glorificação não consiste apenas em retomar no céu a glória que lhe pertence, mas sobretudo na transmissão da salvação, no dom da vida para todos os que creem. Esta finalização da “glorificação” de Jesus em função daqueles que lhe foram confiados e das pessoas que no futuro se juntarão a ele, nunca será suficientemente destacada.

O “novo mandamento” do amor mútuo, que Jesus dá aos seus discípulos e discípulas como uma disposição testamentária e atribui-lhes como uma marca de seu seguimento (v.35), pode-se compreender e interpretar muito bem, colocado como está imediatamente após as palavras da separação iminente: nas dificuldades em que os/as discípulos/as virão a encontrar-se devem manter o relacionamento com ele, voltando seus cuidados para outros, como ele fez.

Este amor constituirá verdadeiramente a característica essencial da comunidade cristã (1ª. Leitura). Note-se a evidente relação entre o “novo céu e a nova terra” (Ap 21,1) como frutos da ação amorosa de Deus e do compromisso cristão.

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

www.subsidiosexegeticos.wordpress.com

 

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