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Subsídios Exegéticos Para Liturgia Dominical - Santissima Trindade

por João Carlos Romanini

07/06/2020

Foto: Divulgação

Subsídios Exegéticos Para Liturgia Dominical

Ano A

Dia:07/06/2020

Domingo: Festa da Santíssima Trindade

Evangelho: Jo 3,16-18

Primeira Leitura: Ex 34,4b-6. 8-9

Segunda Leitura: 2Cor 13,11-13

Salmo:  Dn 3,52. 53. 54. 55. 56 (R.52b)

 

Evangelho

Neste domingo, lemos um trecho do diálogo de Jesus com Nicodemos, no terceiro capítulo do evangelho de João. Nicodemos é um fariseu que veio conversar com Jesus durante a noite (Jo 3,2). O horário da conversa pode ser simbólico: ele está nas trevas e vem procurar a luz.

Os fariseus eram um partido político-religioso que se opunham a Jesus. Embora Nicodemos pertencesse a este grupo, sua atitude não é hostil, mas de interesse e de busca pela verdade. Só isso já nos questiona: diante de quem discorda de nós, temos uma atitude de fechamento e de preconceito, ou estamos abertos a dialogar e a aprender?

O diálogo de Jesus com Nicodemos tem vários momentos, mas o tema é um só: a fé em Jesus como filho de Deus e como salvador. Podemos dividir o diálogo em duas grandes partes: vv. 3-10: a necessidade de nascer de novo; vv. 11-21: a salvação trazida pelo Filho de Deus. Estas duas partes estão interligadas e se completam mutuamente.

Os versículos lidos na liturgia de hoje são tirados da segunda parte e têm como ideia que se repete a fé no Filho como fonte da vida. A missão do Filho é realizar o projeto do Pai; e o projeto do Pai é a salvação da humanidade. Este é o objetivo último da encarnação (Jo 1,14) e da morte-ressurreição (Jo 19-20) de Jesus. Significa que toda a vida de Jesus está marcada pelo desejo do Pai de dar a vida eterna aos seres humanos. Quem decide se este desejo do Pai se realizará ou não é a própria pessoa, que pode aceitar ou não este desejo em sua vida. É o que Jesus diz no v. 16: “Pois Deus amou de tal maneira o mundo, que deu seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Esta ideia continua nos versículos seguintes. No v. 17, Jesus afirma: “Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. O Filho não foi enviado para julgar, isto é, condenar o mundo: o Filho foi enviado para salvar.

Esta afirmação de Jesus no faz perguntar: Então a salvação é para todos indistintamente? Jesus responde que sim, mas há uma condição, apresentada no v. 18: “Quem nele crê não é julgado; mas quem não crê já está julgado, porque não crê no nome do Unigênito Filho de Deus”. Com isso, Jesus afirma que a salvação não é o privilégio de um grupo, de uma igreja ou de um único povo: a salvação é destinada a toda a humanidade.

No evangelho de João, é muito importante o verbo pisteuo: “crer, acreditar”. Crer em Jesus não significa somente saber que ele existe e respeitá-lo; significa aderir ao seu projeto salvífico. Aderir não somente para receber a salvação; mas também para fazer a salvação acontecer hoje, por meio da prática do amor (Jo 15,12).

Portanto, “crer no Filho” não é sentimentalismo, mas um comportamento concreto: ajudar o Filho a realizar o projeto salvífico do Pai. E com isso, entramos no acontecimento que celebramos hoje: a Santíssima Trindade.

Costumamos dizer que “a Santíssima Trindade é um mistério”. A palavra mistério vem do grego mystérion, que usada para designar não um segredo qualquer, mas aquele segredo que deve ser revelado aos poucos, porque é grande demais para entendermos tudo de uma vez. Ou seja, o “mistério” é algo que sempre escapa à nossa capacidade de compreender plenamente, ele sempre reserva uma surpresa, sempre tem uma novidade guardada. O mistério pode e deve ser entendido pela nossa inteligência, só que quanto mais nós o compreendemos, tanto mais descobrimos que não cabe tudo na nossa cabeça: sempre haverá algo novo a aprender e que nunca poderemos dizer que o assunto está esgotado.

Assim é a Santíssima Trindade: ela sempre escapa aos nossos esquemas teológicos e mentais. Deus não se resume àquilo que nós pensamos sobre ele. Nicodemos estava disposto a aceitar isso: o projeto do Pai não se encaixava na doutrina dos fariseus e, por isso, Nicodemos entrou em crise e foi procurar Jesus para aprender.

E Jesus responde que só pode minimamente compreender Deus quem participa da dinâmica da vida de Deus, que é o amor. O amor das três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – os torna tão unidos que são um só. A Trindade é a melhor sociedade. Nós somos convidados a repetir entre nós o mesmo princípio do amor, que tornará nossa sociedade humana mais semelhante à sociedade trinitária, “para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo 10,10).

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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