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Com projeção de ano com grande seca, saiba como se preparar para as próximas safras

por Nayam Franco

Engenheiro Agrônomo da Cotrijal, Elmar Floss, dá dicas de como se preparar

Foto: Divulgação

A chuva não veio e o ciclo 2021-2022 será lembrado como o ano da grande seca. As estimativas iniciais apontam um prejuízo bilionário para o Rio Grande do Sul, sobretudo, nas culturas de soja e milho. O cenário é desafiador, mas não representa um ponto final. Em ano de vaca magra é preciso reavaliar todo o sistema de produção e buscar amenizar os efeitos quando uma nova estiagem surgir.

Conforme o engenheiro agrônomo Elmar Floss, doutor em Agronomia e especialista em Fisiologia Vegetal, Nutrição e Manejo de Culturas de Lavoura, em agosto do ano passado os institutos de meteorologia já apontavam que viria chuva abaixo da média no verão. O que ninguém esperava era a intensidade do La Niña, que em alguns locais sequer possibilitou uma janela para o plantio da soja.

“Em algumas regiões tivemos mais de 60 dias sem chuvas. Mas andando um pouco pelo Estado percebemos que a situação não é generalizada. Em áreas com boa estrutura de palhada a soja resistiu mais tempo. Isso, em algumas regiões, pode fazer uma diferença de 10 a 12 sacos por hectare, mesmo em um ano tão difícil como o atual”, afirma o professor, que também é diretor do Instituto de Ciências Agronômicas (Incia).

Floss aponta que a grande preocupação do produtor tem que ser: o que fazer para não deixar a água que cai durante o ano escorrer e armazenar mais água no solo? O professor alega que não adianta fazer terraços. É preciso construir um perfil de solo descompactado e coberto. “Ano passado, em Passo Fundo, choveu 1.355 mm. Isso temos que aproveitar. O momento da dor é a hora de refletir e ver o que tem que fazer diferente”, afirma.

O professor explica que o produtor que fez uma boa cobertura no inverno, com uma grande palhada, consegue dissipar a energia da chuva para não provocar erosão. A técnica funciona como anteparo para diminuir a velocidade de escoamento e aumentar a infiltração de água e evita a evaporação.

“Quanto melhor a estrutura física do solo, mais profundo o sistema radicular da soja e do milho, o que permite buscar água mais no fundo. Esses são os dois segredos: produzir palha e ter o solo descompactado”, explica Floss.

PRODUZA UMA LAVOURA MELHOR
O engenheiro agrônomo deixa a seguinte sugestão de planejamento para os próximos meses e justifica o uso de algumas culturas importantes para a saúde do solo:

- Quando a umidade e a chuva retornarem, implantar culturas de verão, como o milheto ou capim-sudão. Com as altas temperaturas, elas irão se desenvolver rapidamente. E a geada de abril, tradicional em anos de La Ninã, matará essas culturas e produzirá uma bela palhada. Essas culturas têm uma capacidade espetacular de trazer potássio lá do fundo, onde raízes chegam a 30cm a 60cm e ficam na palha. Esse potássio é liberado rapidamente.

- Sobre a palhada de milheto ou capim-sudão, quem vai plantar trigo, aveia ou cevada coloque um nabo e faça o plantio no fim de maio, junho ou julho nas regiões mais frias. Essas culturas econômicas vão se aproveitar dessa melhoria da estrutura física, química e biológica.

- Quem estiver preparando a área para milho, em agosto, e não for plantar trigo e aveia, pode consorciar o nabo com uma gramínea de inverno ou aveia preta ou centeio para depois plantar o milho.

- Na área de soja é preciso fazer um consórcio - o melhor na região é com aveia preta ou centeio, nabo e uma leguminosa, de preferência, ervilhaca.

O consórcio de três culturas, com diferentes sistemas radiculares, produz muito mais palha. A leguminosa junto vai trazer nitrogênio do ar para o sistema, sendo muito importante depois para quando vai plantar soja, pois o nódulo só começa a liberar nitrogênio para a planta de soja quando chega no terceiro trifólio. Da emergência ao terceiro trifólio, a soja precisa ter um arranque bom com nitrogênio dentro do solo.

E ele conclui: “Produzir matéria orgânica vai baixar o custo de produção da aquisição do fertilizante químico e, por outro lado, dar adequada nutrição às culturas.”

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