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Sentidos III - Paladar: comer teológico

Miguel Debiasi

Esta reflexão faz parte da série sobre a importância dos sentidos para a experiência de fé. Como memória das anteriores recordo que a fé envolve a corporeidade. Ou seja, a experiência de fé em Cristo vivenciada pela razão ou pela liturgia, mística, sempre tem um gosto, um sabor.

O termo paladar, do latim palatare, significa o céu da boca. O paladar é um dos cincos sentidos humanos e permite reconhecer o gosto de substâncias colocadas sobre a língua. Melhor dizendo, identifica os gostos básicos como amargo, ácido, salgado e doce. Também permite que a pessoa estabeleça comunicação com seu mundo interior e com tudo que estiver ao seu redor. Segundo estudos antropológicos toda a pessoa pode, pela educação e cultura, desenvolver de forma diferenciada os cinco sentidos. A experiência de tocar, ouvir, ver, saborear e cheirar assume diversos significados conforme a cultura e a educação. Dentro de uma cultura e de uma educação a reflexão teológica valoriza os sentidos humanos com suas respectivas acentuações. Isto é, reconhece que há uma hierarquia de valorização em todas as culturas e por meio de comunicação enumera a ordem decrescente dos sentidos. Em razão disto, o processo de evangelização pode ter privilegiado a audição.

Neste segmento compreende o uso dos sentidos, em especial nas liturgias associadas à cultura e formação das pessoas e comunidades. Mas, isto não é suficiente na compreensão de significados na fé. Isto é, os sentidos por mais acurados que sejam não podem, sozinhos, captar o valor da água benta, do pão eucarístico. Por outro lado, sendo históricos, a Palavra e os ritos que conduzem ao significado de fé também necessitam da participação dos sentidos. Logo, a celebração litúrgica é ação expressada mediante palavras, gestos e movimentos no aporte de sinais sensíveis que chegam aos sentidos do paladar, tato, da visão e audição e do olfato.

Ademais, Jesus Cristo compara o Reino dos céus com um banquete (Mt 22,1-10). Ao comparar o Reino a um banquete mostra a importância dos sentidos, em razão de que o ato de comer e beber faz viver. Partilhar a mesa faz família, amigos e comunidade como ensina a multiplicação dos pães e peixes (Jo 6,10-13). A princípio, no comer teológico, toda pessoa é convidada a partilhar a mesa, uma vez que a refeição ou o comer e beber é vida. Sendo assim, as coisas da fé e o próprio Jesus se apresenta como o pão vivo que desceu do céu (Jo 6,51-56). É evidente que a parábola do banquete convida à refeição. Isto é, experimentar quão doce é o paladar da construção do Reino, porque sentidos e tudo mais da vida humana devem participar da obra do Reino. Para entrar no banquete precisa-se da corporeidade humana. Portanto, o sentido do comer teológico consolida gosto pela obra de Jesus. É, na verdade, fazer da fé uma refeição, comer do pão que traz a plenitude da vida. Acompanhe na próxima crônica o sentido da audição na fé.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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