Sem vergonha
A vergonha talvez seja uma das mais dolorosas experiências humanas. Ela é fruto das humilhações impostas às pessoas. Humilhações podem ser de muitas naturezas. Ela tem uma estreita relação com a esperança destruída. Isto é, a vergonha estabelece condições para as disfunções no convívio mais íntimo da natureza humana e em outros relacionamentos. Destarte, o risco de perder a vergonha pode expor a pessoa ao ridículo ou causar o embaraço dos outros. Em cenário político mundial o menosprezo pela política pública é uma força dominadora aliada natural ao poder do dinheiro. Em defesa do poderio econômico, sem escrúpulos reduziram o papel da política pública.
Em cenário político nacional assistimos as ameaças às esperanças do povo brasileiro. Direitos garantidos tornam-se inseguros diante das aspirações em relação ao campo da economia e do mercado. O discurso político pela estabilidade da economia se distancia do bem comum, coletivo. Em situação de crise mundial da economia globalizada na qual se materializa profundamente o fracasso do sistema injusto e excludente apela-se outra vez para o sacrifício das nações pobres. Em nossa pátria, se não bastasse, reproduz-se um velho discurso de 500 anos, favorável aos detentores de muitas posses, que impõe culpa social ao alto salário mínimo que prejudica o sistema, inviável à estabilidade econômica. Atrás deste velho discurso esconde-se a incapacidade do sistema econômico se sustentar sem a exploração dos trabalhadores.
Na mesma direção, obriga-se ao Estado incrementar políticas públicas na seguridade social avessa à classe trabalhadora, às organizações sociais, sindicais e populares. Há um discurso internacional de promulgação de reformas políticas necessárias em socorro ao sistema neoliberal. Mais objetivamente em nível nacional, pretende-se alinhavar o país com as políticas neoliberais que até então só tem favorecido ao mercado mundial. Essas políticas são o desvanecimento da esperança dos pobres e de um país soberano. A expectativa dos países latino-americanos é de serem desrespeitados nos direitos básicos da existência humana por novas políticas neoliberais.
Em cenário mundial que anula a democracia e reduz os direitos humanos, mais uma vez os indivíduos são penalizados. Na reviravolta das políticas públicas perderam a vergonha em defesa do mercado. Na verdade, é basicamente a frustração e o fracasso da economia que conduzem ao ódio e à violência entre países, povos, indivíduos. Tal ocorre diante do faminto mercado por este não cumprir as promessas de bem coletivo, o que igualmente conduz para a destrutibilidade social e política dos países subservientes ao neoliberalismo. No mesmo rodo o cenário político nacional perdeu a vergonha. Nele há vontade política de implantar medidas nada esperançosas para a nação. Pior, os sacrifícios dos pobres serão benefícios econômicos para a sociedade internacional.
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