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O show dos tolos e o silêncio dos sábios

Vanildo Luiz Zugno

Conta a lenda que o Oráculo de Delfos, consultado sobre quem seria o homem mais sábio de Atenas, anunciou que este atributo correspondia ao filósofo Sócrates. Este, ao ser informado do vaticínio divino, serena e calmamente respondeu: “Só sei que nada sei!” Todos ao redor ficaram abismados. Estaria Sócrates desprezando a voz dos deuses? Calmamente ele explicou a seus ouvintes que, a consciência da própria ignorância, é o primeiro passo para a busca do verdadeiro conhecimento. Segundo ele, aquele que está convencido de que já conhece tudo, não vê motivo para inquietar-se em buscar a verdade e afunda-se em sua orgulhosa escuridão.

Naquela mesma época, na Palestina, um grupo de homens recolheu e colocou por escrito a sabedoria popular do povo judeu. Nasceu assim o livro dos Provérbios que está na Bíblia. Nele, encontramos frases fantásticas sobre a sabedoria e a ignorância. Uma delas é quase igual à de Sócrates: “Quem é sábio procura aprender, mas os tolos estão satisfeitos com a sua própria ignorância”. Outra diz: “O tolo pensa que sempre está certo, mas os sábios aceitam conselhos”. E ainda outra: “Aquele que quer aprender gosta que lhe digam quando está errado; só o tolo não gosta de ser corrigido”.

Nestes tempos em que assistimos a verdadeiros shows de tolos nas portas dos palácios, nas praças, nos púlpitos das igrejas, nos microfones e câmeras de rádio e televisão e nas inúmeras telas das múltiplas redes sociais que tomam conta de nosso cotidiano, estas frases convidam a pensar sobre o valor do silêncio que busca a verdade.

Sobre os gritões de verdades que não existem e que insistem em mentir para si mesmos e para os outros, bem lembra o mesmo Livro dos Provérbios: “A pessoa prudente esconde a sua sabedoria, mas os tolos anunciam a sua própria ignorância”.

O dramático é que, o amor pela mentira, como lembrava recentemente o Governador do Rio Grande do Sul, vem sempre acompanhado pelo desprezo à vida. Já o Livro dos Provérbios afirmava: “Quem procura ter sabedoria, ama a sua vida”. E, acrescentamos nós: o ignorante se apega à mentira, e com isso, acaba com a própria vida e destrói a vida dos outros. Por ação ou por omissão, a mentira como opção, é sempre culpável.

Para resistir à opção ignorância é preciso contar com o Espírito da Verdade que habita em cada um de nós e nos faz defensores da vida. E, por Sua força, ter a ciência primeira de nossa própria ignorância e de nossa finitude que nos fazem rezar com o Salmo 90: “Faze que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio”.

Que Deus nos dê sabedoria para defender a vida dos outros e assim prolongar eternamente a nossa própria existência.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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