O rosto da crise
A palavra mais pronunciada em nossos dias é crise. A crise é assunto em todos os telejornais. Está na boca do jornalista, do político e do povo. Está na antessala do empresário. Presente no prato do pobre. O mundo parece estar subjugado pelo seu poder. Ela parece ser a vitoriosa, mas eis um engodo.
“O mundo está em crise”. É de compreensão geral. Contudo, o critério de aceitação é atribuído pelo baixo índice de crescimento econômico. Pelo índice mensura-se o tamanho da crise. O mundo é visto apenas sob um olhar, o econômico. As outras dimensões da vida estão subservientes ao dinheiro. Nisto há o reducionismo de compreensão da situação mundial. A vida humana está para além da taxa de crescimento econômico, pois tem um valor imensurável. A civilização não pode ser mensurada pelo mercado, que é medido por seus rendimentos e perdas.
Na realidade trata-se de uma crise de consumo. O consumismo é um estilo de vida nada seguro. Não havendo consumo não há necessidade de produção. Vende-se pouco, pouco se consome. Toda crise questiona a lógica das coisas e da vida. Uma explicação do atual cenário é a globalização da economia que centraliza as condições de consumo nas classes sociais abastadas. Noutra leitura, nas entrelinhas da crise há privilégios para poucos e carência para as multidões.
Neste cenário de um mundo globalizado e hegemonizado por forças conservadoras transnacionais, qualquer ação política que proponha uma mudança de lógica de vida e de sociedade geral é combatida e levada ao fracasso. Hoje, superar a crise neoliberal requer uma submissão política e social global, sendo uma derrota dos sistemas democráticos e do estilo de simplicidade da vida. Nenhum político que pense ao contrário desta força hegemônica conservadora mundial haverá de governar, sobretudo em continentes pobres como o latino-americano. Hoje, são quase nulas as vozes de lideranças religiosas e dos movimentos populares, organizações sociais de pressão contra esse sistema. Conta, a favor do mercado, o capital e sua estrutura concentrada em poucas mãos ou nas de pequenos grupos. Além disto, a mídia aniquila toda força de reação coletiva. Se não bastasse tudo isto, as nações pobres são desprovidas de condições de desenvolvimento autossustentável.
Obviamente, neste cenário global, há uma revolução da classe neoconservadora, baseada na visão de que uma sociedade em dimensão coletiva inexiste. Só existe o indivíduo procede com a ideia da economia. Ainda há Estados soberanos, porém da democracia mínima. Tem-se um valor, mercado, que dá prioridade do sistema dominante. Livrar-se deste engano é pensar no primordial das pessoas e da sociedade.
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