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Eu e você, todos mudamos

Miguel Debiasi

Diz o ditado popular: “Pau que nasce torto, morre torto”. Acreditar ser impossível reverter uma situação é da convicção e da ciência humana. Por falta de formação o ser humano aceita com resignação certas realidades. Quer, dizer, aceita a submissão ao real e até o destino. Contudo, acreditar na mudança no Brasil é possível? Talvez só o tempo tenha a resposta certa.

Toda mudança pressupõe alteração de uma situação, de um modelo, de um estado. Melhor dizendo, é mudança para uma situação, modelo, estado de futuro. Mudança, do verbo latino mutare, significa “mudar, trocar de lugar, alterar”. Mas, o sentido de mudança aqui envolve a capacidade humana, social, cidadania que materializa a transformação da realidade brasileira, torná-la mais favorável a toda população da nação. Trata-se de mudança realizada pela formação de consciência, e por estar sensibilizada há uma vontade interior e comunitária de transformação. É algo que muda pela compreensão e adoção de práticas que viabilizem os projetos de transformação da conjuntura política e econômica nacional. Pois bem, a mudança de consciência e prática em seres humanos são mais significativas que os procedimentos científicos ou técnicos executados em um experimento sobre algo.

Para Heráclito, filósofo grego nascido em Éfeso por volta de 540 a.C., considerado pai da dialética, diz que tudo que existe está em transformação. Heráclito definiu o mundo em constante mudança com o que chamou de “devir”. Seu pensamento ficou conhecido pelas célebres frases: “nada é permanente, exceto a mudança” e “ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não é o mesmo, assim como as águas que já serão outras”. Pelo conceito do “devir”, Heráclito vê o mundo constituído pelos opostos. A mudança nasce exatamente do conflito entre os contrários. Com isso vê que os opostos se complementam, como o quente e o frio, o bem e o mal, a vida e a morte, a juventude e a velhice, a alegria e a tristeza, etc.

Contudo, para Heráclito os opostos não produzem o caos. Pelo contrário, são os que garantem a harmonia do Universo. A harmonia está justamente no confronto dos opostos. A unidade está em eterna luta ou conflito entre os opostos. Porém, nesta luta não há vencedores, pois um depende do outro para existir. Para o filósofo, no mundo somente os sentidos nos enganam, por serem uma percepção limitada. É importante perceber que sua teoria permanece atual. Ela contrapõe o ditado popular sobre a impossibilidade de mudar consciências e práticas humanas.

Isso, no entanto, requer a consciência de que a vida é uma constante mudança. É um círculo em transformação. Considerar a vida como algo imutável, para Heráclito, é uma ilusão. Como para ele tudo se movimenta, é preciso consciência de que a realidade política e econômica do Brasil é fruto de péssimas gestões de governos. Na filosofia heraclitiana a única realidade que existe é a mudança, e a percepção disto é tarefa da razão. Logo, é ilusão achar que não é possível mudar e que as pessoas seguem uma órbita política e social. Neste clico de eterna mutabilidade é preciso mudar a consciência e a prática de todo cidadão para transformar o Brasil.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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