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Esperança na temporalidade

Miguel Debiasi

A existência humana tem seus limites não no tempo, mas na temporalidade. A temporalidade não se confunde com o tempo. Temporalidade é viver o tempo que dá sentido à existência humana. Nisto a contingência humana é elevada além do tempo cronológico. Para os cristãos o tempo é conduzido pela esperança da salvação. Para os não cristãos o tempo em que a existência histórica é conduzida na responsabilidade. Então, para crentes e não crentes é vital alimentar um fascínio chamado futuro considerável. Eis o desafio da existência humana.

Considerar a temporalidade do tempo como categoria e como orientação de atitudes, sentimentos e pensamentos amplia o valor do ser humano. Contudo, o tempo presente pode ser definido em muitos conceitos. Assim, o tempo é o período de duração das coisas. O tempo é chamado de passado, presente e futuro. O cronológico é medido pelo calendário, pelo relógio, pelos dias, pelas horas. O tempo psicológico se refere à vivência dos personagens. O tempo da natureza é o do envelhecimento. Para o filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a. C.) o tempo é a medida do movimento segundo o "antes" e o "depois". Já para o filósofo alemão Kant (1722 – 1804) “o tempo é um conceito subjetivo criado pela sociedade humana, para explicar a base das transformações da sociedade”. A existência humana se passa no tempo chamado hoje.

Em atenção por vezes excessiva a viver o presente, ou ao passado, é comum ignorar o futuro enquanto tempo considerável para todos os humanos. Por outro lado, a temporalidade do viver humano é fortemente marcada pelo futuro no tempo que se situa no hoje. Esse modo considera que apenas o tempo presente existe e é preciso marcá-lo de esperança. Ao tempo de hoje é preciso agregar a temporalidade necessária para a existência humana. Isto é, a consciência de que temos um passado e que teremos um futuro na perspectiva da consciência e da responsabilidade disponível no presente.

Neste sentido, os teólogos e os filósofos pensam a existência humana como um futuro aberto, indeterminado e preenchido com esperança. Isto não é a situação de passividade daquele que espera o tempo e o futuro. Também não é idolatria do futuro e da história da posteridade ou alienação da esperança. Se assim fosse a espera do tempo, a esperança torna-se disfarçada e impotente. Enquanto houver esperança na temporalidade existirá possibilidade do surgimento do novo, da transformação e do que sustenta a existência humana rumo às coisas futuras, à criação de outra realidade, como a eternidade. Então, para todos a esperança na temporalidade acalenta expectativas além do seu presente mais imediato.  

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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