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Com religião e ou sem religião?

Miguel Debiasi

No atual contexto cultural da secularização, falar em religião provoca reações distintas. Para alguns a religião é residual de um passado superado. Para outros a religião é um elemento folclórico dos povos. E para muitos constitui um valor importante, meio de experiência e de encontro com o Mistério Sagrado. Para praticantes ou não, a religião é tema de reflexão, ela faz parte do cotidiano das pessoas e da sociedade. O discernimento religioso é imprescindível.

As reações diversas sobre este assunto têm como pano de fundo o conceito de religião, experiências e implicações socioculturais e sociopolíticas. A religião é obra da criação humana. O ser humano tem consciência que existe em si mesmo, algo que foi dado por um ser Superior, este tem poder de dá-lo a todos humanos. Todos podem viver a experiência e o encontro com o ser Superior, independente da religião. Mas historicamente, o ser humano com suas vastas culturas construiu relações com este ser Superior através da religião.

O hinduísmo é uma religião indiana, sendo a mais antiga e a terceira maior do mundo, com 1,35 bilhão de seguidores chamados de hindus, que representam entre 15% e 16% da população mundial. Hinduísmo propõe quatro objetivos para a vida humana: dharma – ética e deveres, artha – prosperidade e trabalho, kama – desejos e paixões, e moksha – libertação e liberdades das paixões e do ciclo de morte e renascimento. Hinduísmo prescreve os deveres eternos, como honestidade, abster-se de ferir os seres vivos, paciência, tolerância, autocontrole, virtudes, compaixão, entre outros. Mesmo com todos esses objetivos e deveres a mulher indiana luta para conseguir maior reconhecimento na religião e espaço na sociedade.

A segunda maior religião é o islão ou islamismo. Esta é uma religião abraâmica monoteísta centrada no Alcorão e nos ensinamentos de Maomé. Os adeptos do islã, chamados de muçulmanos, totalizam aproximadamente 1,9 bilhão de pessoas. Os muçulmanos acreditam que o islã é versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada muitas vezes através de profetas como Adão, Abraão, Moisés e Jesus, entre outros. Consideram o Alcorão a palavra literal de Deus e acreditam nas revelações anteriores, como Torá, salmos e o Evangelho. Maomé é tido como principal profeta islâmico e Deus (Alá) é único e incomparável. Afirmam que haverá um julgamento final em que os justos serão recompensados no paraíso e os injustos com o inferno.

As mulheres na religião islâmica vivem sua vida religiosa e seus costumes fiéis à doutrina do Alcorão. O uso do hijab é visto pelas mulheres como forma de liberdade, elegância e valorização do corpo, apesar de o mundo ocidental vê-las como oprimidas e submissas pelas formas em que elas se vestem. A maior parte de seguidores do islamismo encontra-se nos países árabes do oriente médio e do norte da África.

O cristianismo é a maior religião do mundo, com cerca de 2,2 bilhões de seguidores. O nome cristianismo tem origem em Jesus Cristo que veio ao mundo para trazer a salvação e adoração um só Deus. No cristianismo existem divisões, formando ramificações denominadas de: Catolicismo: representa as pessoas que seguem a Igreja Católica Apostólica Romana, que possui como autoridade máxima o Papa. No mundo são contabilizados cerca de 1 bilhão de católicos; Ortodoxo é uma religião cristã, cuja origem vem da separação que aconteceu na Igreja Católica no século XI e que se dispersou no Oriente. As principais Igrejas são a Católica Ortodoxa e Ortodoxa da Rússia; Protestantes surgiram a partir da divergência na Igreja Católica do século XVI. O teólogo Martinho Lutero foi quem liderou a revolta contra a venda de perdão por parte do clero, além de ser contrário aos dogmas praticados pela Igreja Católica, como a impossibilidade de engano por parte do Papa e também da veneração de Santos.

Entre as cinco maiores religiões do mundo está o budismo, criada por Buda, um príncipe chamado Sidarta Gautama. Surgiu na Índia, no século VI a.C. No budismo não existe hierarquia e crença em deuses, somente um líder espiritual, o Buda. No mundo existem cerca de 400 milhões de seguidores, sobretudo na Ásia. O budismo busca a realização plena da natureza humana. A existência é um ciclo contínuo de morte e renascimento, no qual vidas presentes e passadas são interligadas. No Japão, é a segunda maior religião do país, 71% da população é praticante.  

O judaísmo que teve início na Palestina, entre o século IX e V a.C., é uma religião monoteísta, seu patriarca é Abraão. Atualmente são 14 milhões de seguidores no mundo, a maioria vive em Israel e nos Estados Unidos, para onde migraram fugindo da perseguição nazista. Mesmo assim, os judeus representam apenas 1,7% da população norte-americana, enquanto na Argentina, os judeus são 2% da população.

O Brasil é majoritariamente cristão e o maior país católico do mundo. O cristianismo foi introduzido no Brasil por missionários portugueses no início do século XVI. O protestantismo começou a se firmar como segunda maior vertente do cristianismo no país a partir do século XIX. O Brasil é o lar da maior população muçulmana da América do Sul. O islã chegou ao Brasil durante o século XVI com a chegada dos escravos africanos. Hoje, estima-se que existam 1,5 milhões de muçulmanos no Brasil, representando cerca de 1% da população.

O hinduísmo está presente no Brasil. A maioria dos hindus no Brasil são migrantes de outros países, particularmente da Índia e do Nepal. Hoje, existem templos e centros comunitários hindus em todo o Brasil e a religião continua a crescer em popularidade. O budismo chegou ao Brasil pela primeira vez no início do século XX, trazido por imigrantes japoneses. A maioria dos budistas brasileiros vivem no estado de São Paulo, onde existem vários templos e centro.

Embora tantas religiões presentes no mundo, o número de pessoas sem filiação religiosa cresce, já são mais de 1,2 bilhões. Para essas pessoas, a ideia de um deus ou deuses é simplesmente rebuscada demais se acreditar. Outros podem ter sido criados em uma família religiosa, mas nunca sentiram uma conexão pessoal com sua fé. E ainda outros podem achar o ritual e a estrutura da religião organizada sufocante ou constrangedora.

Seja qual for o motivo, um número crescente de pessoas está escolhendo viver sem religião por muitos benefícios. As pessoas que não se filiam a nenhuma religião relatam sentir-se mais livres e autônomas. Se sentem menos sobrecarregadas por regras e expectativas, e mais capazes de forjar seu próprio caminho na vida ressignificando dogmas antes estabelecidos. Num mundo cada vez mais polarizado por linhas religiosas, a capacidade de pensar por si mesmos é um bem valioso para estes.

Estas informações fazem pensar quem é praticante, sobretudo os cristãos, como tornar a religião meio de encontro dos seres humanos com o ser Superior, Deus Trindade, espaço de libertação humana e de desenvolvimento sociocultural da sociedade. Religião que significa re(ligar) o ser humano com Deus, é obra humana que precisa ser aperfeiçoada em sua doutrina e missão. Para tanto, será preciso grande debate sobre o papel da religião, assunto tão controverso em nosso tempo, mas imprescindível para crescimento humano e da sociedade.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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