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Acolhida é tudo

Miguel Debiasi

A indiferença é um dos piores e mais dolorosos sentimentos que alguém possa imaginar e sentir. É um grande mal presente em muitos âmbitos da vida e da sociedade moderna. Ocorre no mundo do trabalho. Perpassa o campo da moral. Manifesta-se nas relações sociais, religiosas e políticas. Na economia provoca e causa explorações. A indiferença exclui milhões de pessoas. A sua contrapartida é o gesto de acolhida. Através dele as pessoas podem transformar a sociedade.

A pessoa é um ser relacional. Em qualquer espaço e tempo a pessoa estabelece relações. Diariamente cruza-se com muitas pessoas, sejam elas conhecidas ou não. As relações interpessoais, sejam elas formais ou informais, se multiplicam nos compromissos e nos afazeres cotidianos. Na vida em contexto de urbanidade a pessoa torna-se sempre mais um ser relacional. Ademais, com o invento da internet ampliou-se o campo das relações. Por meio eletrônico estabelecem-se novas relações que transcendem a relação física. No mundo das relações, umas comunicam vida e valores enquanto outras, às vezes, são ignoradas e menosprezadas. Ocasionalmente, na relação interpessoal, acontece o desqualificar da importância do outro.

Cientes de que o ritmo da vida moderna caracteriza-se por forte individualismo onde ninguém tem tempo de escutar o outro, acaba-se por supervalorizar a dimensão subjetiva. Neste sentido, as relações acontecem principalmente em termos circunstanciais e em menor grau num contexto de realização e de afeição do ser humano. Nesta perspectiva associa-se a felicidade ao prazer subjetivo, incluindo o utilizar-se de pessoas para este escopo. Há, então, relações que acontecem na rota do interesse pessoal e no jogo do sistema, ou seja, na indiferença.

A sociedade do sistema da vantagem promove a competição com o próximo. Diariamente as pessoas são submetidas à condição de manifestar relações insignificantes. O atual sistema do ganhar e do lucrar diminui a grandeza das relações humanas. Isto é notório nas torcidas de futebol, nos conflitos entre as nações, na divisão política da sociedade, na intolerância religiosa, social, cultural e étnica.

Em mundo urbano vive-se rodeado de pessoas, por vezes vazias de sentimentos e distantes de afeições. Hoje imigrantes, desfavorecidos, minorias e indígenas são exemplos de seres humanos colocados à margem da sociedade. A indiferença só traz dores e sofrimento. Para contrapor esta realidade, um gesto de acolhida tem muito poder, mais que a economia e o mercado juntos. Atitudes de acolhida, de proximidade, são formas de construirmos uma sociedade saudável para todos. Ademais, são atos que não exigem muito, apenas espírito de solidariedade, mente aberta e um coração acolhedor.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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