A Igreja e a ideologia de gênero
Houve um tempo em que os debates eram por salários, leis trabalhistas, previdência social, consolidação de políticas públicas, liberdade religiosa, direito ao sufrágio, educação, etc. Em sociedade contemporânea a questão de “ideologia de gênero” parece ter ocupado a cadeira dos debates. Realmente, este debate diz respeito a todos, sobretudo à Igreja.
É notório que no Brasil a temática “ideologia de gênero” tem tomado todos os espaços, o Congresso, universidades, escolas, igrejas, organizações não governamentais, sindicatos, partidos políticos, etc. Na tensão dos debates que não deixam de ser ideológicos, três conceitos estão sendo questionados: sexo, gênero, sexualidade. A discussão destes conceitos está diretamente ligada à elaboração dos planos de educação para o Brasil. Desde 2014, com a iniciativa da elaboração de um Plano Nacional de Educação (PNE), os termos entraram para os holofotes do debate. De um lado, políticos, pesquisadores, igrejas, organizações não governamentais, teóricos e cidadãos articulados não querem que a “ideologia de gênero” seja incluída nos planos estaduais e municipais de educação. Por outro lado, outros agentes sociais, políticos e organizações desejam que a política de gênero faça parte do programa educacional.
Sem desconsiderar as pretensões dos dois movimentos, o tema “ideologia de gênero” começa a encontrar forte resistência na sociedade, nas instituições, nas famílias. As razões da resistência deixam de ser tímidas e são socializadas de forma pública. Algumas estão fundamentadas à natureza religiosa, antropológica ou biológica. Com efeito, na tensão do debate, os próprios termos “ideologia” e “gênero”, passam a ganhar novos sinônimos. A palavra “gênero”, em senso comum, é a diferenciação entre masculino e feminino ou a identificação homem e mulher. Noutro debate, de senso crítico, o termo “gênero” ganha significados que transcendem a natureza biológica e reportam-se à construção cultural, política e religiosa. O termo “ideologia”, historicamente identificado até como forma pejorativa, como no caso do marxismo, comunismo e socialismo, passou a ser compreendido com um sistema cultural.
O debate por “ideologia de gênero” avançará terceiro milênio adentro. As sociedades consideradas democráticas não terão como ignorar esta realidade. A primeira alavanca desta discussão vem da obra da doutora em filosofia, a norte-americana Christina Hoff Sommers, intitulada Who Stole Feminism?, traduzido por Quem roubou o feminismo?, publicado em 1994. Aliás, a autora não se considera uma “feminista de gênero”, mas uma “feminista da equidade”. A equidade é a busca pelo direito de igualdade entre homens e mulheres. Já a “ideologia de gênero” afirma que ninguém nasce homem ou mulher. Na realidade, cabe ao indivíduo no decorrer da vida escolher sua própria identidade, seu gênero, ser homem ou mulher.
Na impossibilidade de prever o rumo deste debate por inclusão da “ideologia de gênero” no Plano Nacional de Educação, a Igreja tem se posicionado contrária. As razões são claras, o sexo é algo biológico, por natureza e não por cultura. A construção do gênero está ligada à condição natural da pessoa. Em defesa disto é de domínio público a nota da Igreja de 18 de junho de 2015 que diz: “a introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas trará consequências desastrosas para a vida das crianças e das famílias”. Diante das tensões de posições opostas, uma previsão é certa, o debate da temática envolverá a todos. No final das contas, todos envolvidos nos debates, porém, de forma ideológica. De resto, no dizer do ditado, “há muito pano para manga”.
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