A Igreja doméstica
A história da Igreja tem sido um tema muito estudado por teólogos, sociólogos e outros teóricos. O interesse pelos estudos da história da Igreja leva a pensar no reconhecimento da sua importância para a humanidade. São muitas as razões pelas quais estudiosos buscam pesquisar a história da Igreja. Debruçar-se sobre o passado e compreender o seu presente não deixa dúvida do importante papel da Igreja para o futuro da humanidade.
Certamente, se estudiosos debruçam-se sobre a Igreja, é porque de fato ela tem muita importância como instituição que atravessa milênios e como comunidade diferenciada pela fé e pela atuação junto aos povos. No raiar do cristianismo era conhecida como domus ecclesiae ou a Igreja doméstica. As pequenas reuniões e assembleias dos primeiros cristãos em suas casas, tidas como Igreja doméstica, foi a principal responsável e meio de implantação e de sustentação do cristianismo pelo mundo. A Igreja primitiva trabalhava em duas estratégias: uma, pela ação de imprimir seu caráter universal, e a outra ao se fortificar como uma comunidade doméstica. Foi justamente num contexto de perseguição que os primeiros cristãos e os apóstolos de Cristo conseguiram implantar a Igreja pelo mundo a partir das reuniões domésticas.
Em prol da liberdade das pessoas professarem a fé em Cristo os apóstolos Pedro e Paulo, grandes pilares da Igreja, não temeram as perseguições do Império Romano. Num contexto de crueldade, atrocidades e mortes sofrido pelos primeiros cristãos reunidos em comunidade doméstica, às escondidas nos porões das casas, milagrosamente permitiram que a fé em Cristo chegasse aos nossos dias. Através de viagens missionárias e de cartas dirigidas aos primeiros cristãos, Paulo mostra uma evangelização que levou à criação de comunidades pelo mundo, sobretudo em ambientes urbanos. Os apóstolos seguiram os passos de Jesus itinerante que percorria povoados, montanhas e planícies anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Em especial Paulo, ao dirigir-se ao homem urbano, como uma missão universal usava duas estratégias para a implantação da Igreja: a criação da comunidade local e o fortalecimento do ensinamento de Cristo.
Com efeito, na peregrinação missionária de Paulo e dos apóstolos a casa foi o espaço para a implantação da Igreja, local onde famílias aprenderam os ensinamentos de Cristo. Para um hebreu, a casa não é apenas espaço das famílias, mas a estrutura da sociedade. É do aprendizado de casa que se estabelece uma relação com o mundo. No sentido bíblico, a casa é o primeiro espaço do encontro, da reunião das pessoas, que se tornou o lugar preferido dos primeiros cristãos e da comunidade Igreja. Assim, o cristianismo foi implantado. A casa proporcionava espaço ideal para os primeiros cristãos adquirirem consciência, ensinamentos e celebração da fé em Cristo (At 2,42-47; Cl 4,15; 1 Cor 16,19; Rm 16,3-5; Fl 4,2-3).
Então, a Igreja primitiva e o cristianismo estabeleceram um grande vínculo com a casa. Neste espaço a Igreja fortificou-se como instituição e como comunidade cristã com a total participação das pessoas numa relação efetiva de comunhão e igualdade. A partir do século IV a organização da Igreja passou por profundas transformações, com liberdade aos cristãos. Foi quando surgiram basílicas, catedrais, capelas, as dioceses e as paróquias. Estas influenciaram as relações entre os fiéis e os presbíteros, porém, a casa é a base para a fé das pessoas. Em suma, a fé em Cristo depende em muito daquilo que se vive na casa, na família, entre pais e filhos, e de sua prática cristã. Hoje, em sociedade moderna, os pais podem fazer de sua família a domus ecclesiae, a Igreja doméstica, vivendo a fé em Cristo de forma profética. Ademais, segundo estudos teológicos, a casa será sempre a base da iniciação cristã das pessoas, independente da época.
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