“A história é o homem”
As produções intelectuais, filosóficas e teológicas buscam a compreensão do sentido da vida humana. Trata-se de um esforço para compreender o ser humano pelas relações subjetivas e objetivas com a história. Toda compreensão leva à orientação e a melhorar os contextos históricos da vida. Compreender o sentido da vida humana é desafio do homem moderno.
No pensamento do filósofo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911), a compreensão do ser humano só é possível via história. Para Dilthey “a história é o grande documento do homem, como mais fundamental expressão da vida”. Considerado pai do historicismo, Dilthey vê como único meio de conhecimento do homem e do comportamento humano o reconhecimento da história. Para Dilthey o reconhecimento da história cabe à ciência da psicologia. Com isso, o historiador é o agente capaz de decifrar o sentido da vida humana. O pensamento de Dilthey, por um lado, é verídico. No dizer do filósofo a compreensão da vida humana dá-se pela história, acessada pela psicologia.
Na compreensão teológica, a vida humana não está limitada ao evento histórico. Embora não haja vida humana sem história. Na reflexão teológica a narrativa, pela vida humana, está muito além de seu contexto histórico. A história possibilita ao crente compreensão de outras dimensões da vida, como as da graça, da eternidade, da transcendência, do espírito indescritível. Em outras palavras, o sentido da vida humana está revestido de dimensões que não são eventos materializados pela história. Elementos que somente Deus dá ao ser humano, sua obra criada, aquilo que é da natureza divina, mistério. Como a certeza que a vida humana é vencedora da morte em Cristo ressuscitado.
No consenso comum a vida parece ser mais significativa através do consumo, de satisfação imediata, do apropriar-se das coisas materiais. Todavia, esta é uma proposta inviável a todas as pessoas. O sistema permite que pouco gozem desta condição material. A maioria é excluída pela pobreza. No presente momento, vive-se no maior escândalo mundial contra a vida humana, pois apenas um por cento da população possui mais riqueza do que os 99% restantes, conforme dados divulgados em outubro de 2015 pela organização não governamental britânica OXFAM.
Mas, a vida humana conduzida segundo os conselhos do evangelho, a fé em Cristo, pressupõe uma participação histórica, como pensava Dilthey. Porém, em Cristo vive-se o sentido da vida crendo em outros valores, como na sua transcendência que, por sua vez, dá sentido à história. Nisto Dilthey tem razão que a compreensão da vida é algo histórico. A diferença está que para um cristão a vida humana não está determinada pelas condições e situações dos tempos históricos. No cristão a história não é somente o homem. Existe algo maior que a história contada em fatos.
O escândalo mundial de um por cento deter mais riqueza do que os demais 99%, e de 62 pessoas possuírem mais bens do que 50% da população global é história que fere a consciência, logo, o sentido da vida. As mortes por fome e por absoluta pobreza invocam compreensão de que Deus não criou o ser humano submisso a essa tragédia da história. O sentido da vida cristã diz que a quantidade de dinheiro acumulada em paraísos fiscais, como aponta o relatório da OXFAM, tem função quando empregado para enfrentamento da desigualdade sócio-humana no mundo. Então, lutar por mundo mais inclusivo pode vir a confirmar a filosofia de Dilthey, de que “a história é o homem”.
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