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Subsidio para 31º Domingo do Tempo Comum

por João Romanini

Ano B - Domingo 31 de outubro 2021

Foto: Divulgação

LITURGIA DOMINICAL - ANO B

 

31º Dom. T. Comum 

Dia: 31 de outubro de 2021

Primeira Leitura: Dt 6,2-6

Salmo: 17,2-3.4.47.50-51ab

Segunda Leitura: Hb 7,23-28

Evangelho: Mc 12,28b-34

 

O Evangelho

Na visão de Marcos, o caso particular que o bom escriba representa é sublinhado em sua peculiaridade. Inserida em relatos que apresentam discussão e confronto com oponentes hostis (cf. 12, 35.38), a perícope mostra como um deles, com seu comportamento razoável, se distancia de seus colegas que rejeitam Jesus.

Antes de mais nada, as palavras da passagem sobre o culto adquirem uma dureza dentro do texto integral do Evangelho. Elas são pronunciadas na praça do templo, depois que Jesus o purificou dos vendedores e cambistas. Ao colocar a passagem no final dos diálogos, Mc enfatiza o significado positivo do amor a Deus e do amor ao próximo como a quintessência do ensino ético de Jesus. Quem ama a Deus com todas as suas forças e ao próximo como a si mesmo, está perto do reino de Deus que começa a ser realizado com a presença de Jesus. A pessoa não precisa mais de holocaustos e sacrifícios sangrentos para aproximar-se de Deus, mas deve se perguntar: quem é verdadeiramente este Jesus?

O escriba que se aproxima de Jesus é apresentado como uma testemunha nos diálogos anteriores. O que ele ouviu o impressionou e agora o leva a fazer uma pergunta a Jesus, mas não para tentá-lo como acontece em Mt 22,35. Ele não pergunta qual é o primeiro mandamento da Lei (como Mt 22,36), mas qual é o primeiro de todos os mandamentos (note-se em Lc 10,25 uma questão totalmente diferente). Ele quer saber se se pode identificar a quintessência do que constitui a vontade de Deus.

Em sua resposta, Jesus primeiro cita Dt 6,4s, a profissão de fé no único Deus com o mandamento do amor a Deus. A frase “Ouve, Israel”, enfatiza no AT o pensamento da singularidade de Yahweh no sentido que Deus é único contraste com as muitas divindades dos povos pagãos, ou no sentido de que há apenas um só Senhor em contraste com os muitos lugares diferentes de culto e das tradições de Yahweh que se diferenciavam entre si.

O amor por Yahweh foi a reação ao amor que Deus manifestou ao seu povo com a sua guia amorosa. No Deuteronômio, ele foi visto em analogia ao amor de filho. Em Oseias, em analogia ao amor conjugal. Na recitação deste texto - dito shema (escuta) -, que no tempo de Jesus todo israelita do sexo masculino tinha que pronunciar de manhã e à noite, se pensa com gratidão na eleição do povo. Uma notável mudança de acento ocorreu na citação de Dt 6,5. Enquanto o texto hebraico fala de coração, alma, força, Marcos apresenta uma série de quatro termos e, em vez de dynamis, usa dois termos derivados da área racional e psicológica. A dianoia enfatiza a força do intelecto. O termo ischys tornou-se uma palavra de natureza psíquica que designa todas as forças da alma. Amar o único Deus com todas as forças e aptidões é a síntese suprema da vontade de Deus. Jesus adiciona um segundo mandamento, o amor ao próximo. É verdade que em Mc este não está uniformado ao primeiro mandamento como em Mt 22,39 (homoia autē), mas a justaposição dos dois prepara a mesma avaliação. O amor a Deus e o amor ao próximo aparecem como uma densa explicação das duas tábuas da Lei.

O escriba concorda com Jesus com duas expressões de nítido teor grego (kalōs, ep’ alētheias). Variando e abreviando, ele repete a resposta de Jesus. Ao fazer isso ele enfatiza, em primeiro lugar, a singularidade de Deus. Em segundo lugar, identifica o amor a Deus e o amor ao próximo. Sua equivalência é expressa ainda mais fortemente. É singular a introdução de um novo termo (synesis substitui psychē e dianoia do v. 30), o que novamente sublinha o aspecto intelectual.

A postura do escriba aparece como um comentário que desenvolve a questão por meio de um acréscimo que atribui ao amor de Deus e ao próximo um valor mais alto do que todos os holocaustos e sacrifícios sangrentos. Com isso o culto no templo não vem abrogado, mas é significativamente relativizado.

Em Mc essa observação adquire relevância porque é feita por um teólogo judeu na praça do templo, ou seja, no local do sacrifício. Jesus observa a inteligência ou razoabilidade (nounechōs) da resposta e elogia muito o escriba. Se Jesus certifica que o doutor da lei não está longe do reino de Deus, significa que Jesus é caracterizado como o Mestre que possui autoridade e está autorizado a pronunciar tal julgamento. O reino de Deus aparece como uma entidade presente, do qual convém recordar que em Marcos tem um caráter cristológico (cf. 4,11).

Poder-se-ia esperar um chamado ao seguimento. Não é por acaso, no entanto, que isso esteja faltando, porque a preocupação central do diálogo é constituída pelo acordo entre a concepção de Jesus e as proposições fundamentais da fé judaica. Não há obstáculo fundamental para o judeu que o impeça de se juntar a Jesus. Note-se a ênfase no aspecto racional deste acordo. A observação passageira de que ninguém mais ousava questionar Jesus possui um caráter polêmico. Não depende de Jesus se os judeus não encontram acesso a ele e, na grande maioria, o rejeitam. Qualquer judeu poderia aceitar as pré-condições de seu ensinamento.

A insistência da Igreja primitiva sobre o mandamento do amor como pleno cumprimento da Lei (Rm 13,10; Gl 5,14; Mt 7,12) brota do ensinamento de Jesus e do seu exemplo de dedicação total, até o dom da vida pela salvação da humanidade. Ele revelou o verdadeiro amor de Deus e o tornou acessível à pessoa de fé. Essa, unida a Cristo, pode experimentar a beleza do Reino e viver antecipadamente no seu cotidiano a satisfação de uma vida fraterna/sororal, inspirada no exemplo de Jesus.

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