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Subsídios exegéticos para o 2º Domingo da Quaresma

por João Romanini

Segundo Domingo da Quaresma 28 de fevereiro de 2021

Foto: Divulgação

SUBSÍDIOS EXEGÉTICOS

LITURGIA DOMINICAL - ANO B

 

Segundo Domingo da Quaresma

Dia: 28 de fevereiro de 2021

Primeira Leitura: Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18

Salmo: 115, 10 e 15. 16-17.18-19

Segunda Leitura: Rm 8,31b-34

Evangelho: Mc 9,2-10

 

O Evangelho

O episódio da transfiguração é estreitamente relacionado ao batismo de Jesus, quando Ele foi denominado por Deus “filho amado”. Agora, enquanto Jesus está para empreender o caminho em direção à cruz, o Pai o credita diante dos três discípulos privilegiados, Pedro, Tiago e João, exortando-os a escutá-lo. A profissão de fé de Pedro (8,29) que havia reconhecido Jesus como o Cristo, é confirmada pelo Pai, que o proclama de novo seu “filho amado” (9,7→1,11).

A perícope se abre com a ambientação cênica (v.2); segue a descrição da transfiguração de Jesus e a aparição de Elias com Moisés (v.4). Depois da reação de Pedro (v.5), Deus desvela o significado do evento (v.7). A parte conclusiva menciona o fim repentino da visão (v.8), a ordem do silêncio (v.9) e a execução da parte dos discípulos com a dúvida sobre a ressurreição.

Pela forma do relato, podemos compará-lo a Ex 24,1-9. Da mesma forma que Moisés, Jesus sobe o monte e leva consigo três acompanhantes expressamente nominados. Ao sétimo dia chega a Moisés a voz de Deus. Daqui se explicam os seis dias transcorridos para Jesus subir o monte (v. 2). A nuvem é, como em Ex 24,16s, sinal da presença de Deus. Uma concordância importante é verificada pelo fato que a voz de Deus ressoa da nuvem. Estes elementos são suficientes para caracterizar a perícope como narrativa de teofania: Jesus é envolto na aparição celeste, da qual os discípulos são testemunhas. A voz escutada o declara como Filho de Deus. Assim, o conjunto do relato se transforma em uma entronização. Jesus é apresentado como ser celeste do mundo transfigurado.

O termo “transfiguração” que habitualmente vem empregado para referir esse momento epifânico, devia, a rigor, ser substituído por “metamorfose”, já que esse é o vocábulo usado explicitamente por Mc 9,2 e Mt 17,2 quando referem que Jesus foi mudado de forma (metemorphōthē) à frente dos três discípulos. Ademais o verbo grego metamorphoūn tem um significado não-moral, como em Rm 12,2, mas físico. Denota uma mudança, ainda que momentânea, das qualidades externas de Jesus.

À transfiguração de Jesus se acrescenta a aparição de dois personagens do Antigo Testamento. A aparição, dirigida aos discípulos, vem descrita com as mesmas palavras que se usam para as aparições pascais do Ressuscitado (ōphthē: 1Cor 15,5; Lc 24,34) e para as aparições do anjo (Lc 1,11; 22,43; At 7,30). As pessoas que aparecem falam com Jesus, o transfigurado. No evangelho de Marcos, nada se diz sobre o conteúdo do colóquio (diversamente de Lc 9,31). Note-se que no v. 4, contrariamente ao que acontece no v. 5, Elias é nomeado primeiro que Moisés. Mc introduz essa mudança para pôr em evidência o seu interesse por Elias. É sabido que no judaísmo existia/existe a expectativa que Elias é o precursor do tempo messiânico. O evangelista, ao colocar Elias em primeiro, revela que para ele é mais importante o componente escatológico: Jesus introduz o fim dos tempos.

A palavra que Pedro dirige a Jesus é apresentada como resposta e reação ao que está acontecendo. Ele se dirige a Jesus com o termo Rabi (Mt 17,4: Senhor; Lc 9,33: Mestre). A exclamação “é bonito estarmos aqui” faz pensar na antecipação da bem-aventurança celeste que os discípulos experimentam. Mc interessa-se pela resistência do discípulo em compreender. A falta de compreensão de Pedro está no mesmo nível de 8,32s. Querendo reter a bem-aventurança celeste, o discípulo se defende novamente da necessidade do sofrimento.

Relacionando com as outras leituras

Devemos buscar o significado do texto na aceitação positiva da sua mensagem de fé e na disponibilidade em seguir Jesus no itinerário da cruz, sabendo que o percurso não se conclui com a cruz. Aqui a conexão com primeira leitura é nítida, pois o sacrifício de Isaac é figura da Paixão de Jesus, o Filho único. Podemos considerar que a perícope constitui a soma das experiências relacionadas à história de Jesus, que considera a sua atividade um evento escatológico-histórico.

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