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Subsídios exegéticos para o 6º Domingo do Tempo Comum ano B

por João Romanini

Roteiro para uma refelxão do Domingo 14 de fevereiro de 2020

Foto: Divulgação

SUBSÍDIOS EXEGÉTICOS

LITURGIA DOMINICAL - ANO B

 

Dia: 14 de fevereiro de 2021

Primeira Leitura: Lv 13,1-2.44-46

Salmo: 31.1-2.5.7.11

Segunda Leitura: 1Cor 10,31-11.1

Evangelho: Mc 1,40-45

 

Evangelho

Na tradição do Antigo Testamento (Lv 13-14) pode-se descrever a lepra como um mal aterrorizante. Além da questão sanitária, havia o problema teológico. O leproso era impuro, tanto no sentido biológico como moral. Via-se esta doença como uma maldição de Deus. Portanto, a lepra era uma sentença de morte muito desoladora, pois o acometido deste mal perdia seu lar e sua comunidade, vivendo em lugares retirados até a terrível morte no abandono e ainda era julgado amaldiçoado por Deus. Pode-se dizer, o leproso era um excomungado, sem acesso à vida social e sem acesso a Deus. Ele devia esperar a morte abandonado por todos e sem perdão. Não havia cura, pois os recursos da medicina de então não alcançavam este mal. Curar um leproso, só aconteceria mesmo por milagre e equivalia a ressuscitar um morto. Por isto mesmo, ao leproso não restava nenhuma esperança. Os sacerdotes eram os encarregados de examinar as pessoas para constatar a lepra e também e uma eventual cura.

Na leitura do evangelho de hoje, algo de novo acontece: um leproso que, apesar de toda esta situação, ainda tem esperança. Ele se liberta da cosmovisão comum da época. Buscou em Jesus o que sabia que não encontraria no Deus domesticado pelos sacerdotes do templo. Busca a cura, não na instituição sacerdotal, mas na pessoa de Jesus. Ele se aproxima e, portanto, desobedece ao Lv 13,45-46 que estabelecia que ele deveria viver afastado e alertar as pessoas de que estava impuro (Lv 13,45s). Ele não se afasta, mas vai ao encontro do homem que, mais do que a instituição sacerdotal, podia lhe dar esperança e, com fé, diz: “se queres, podes...”. Por sua vez, também Jesus quebra as prescrições do Levítico. Toca no suposto impuro e amaldiçoado, mostrando que seu Deus não é aquele dos sacerdotes e escribas. Ele não exclui os impuros, mas derruba a cosmovisão teológica da oficialidade.

Algumas Bíblias traduzem o v. 41 como: “Jesus sentiu compaixão”. Outras traduzem, como “irado”. As duas são possíveis. Talvez esta última tradução nos chame atenção para o mais importante na ação de Jesus. Jesus não manifesta ira contra o leproso, mas contra o sistema excludente que condenava os “impuros” ao ostracismo.

Como instaurador do Reino, Jesus mostra sinais messiânicos já apontados pelos profetas (Is 35,5ss; 61,1ss). Ele apresenta as curas como a chegada deste Reino (Mt 11,5), quando a velha lei será superada. Isto, na comunidade Marcos, reflete a passagem de uma religião legalista para a nova práxis cristã, onde, mais do que um milagre no sentido de superação das leis da natureza, se supera uma visão teológica viciada e excludente.

Nesta nova realidade, o que conta é a compaixão que, na visão cristã, está acima da lei. Jesus mostra que o serviço ao ser humano supera a lei, pois como Ele ensina, a lei (sábado) foi feita para o ser humano e não o ser humano para a lei. Por isto ele cura e reintegra o ser humano contrariando a lei. Nisto consiste sua autoridade: ele revela o verdadeiro rosto de Deus e, para tanto, pode contrariar a lei.

Ao mandar o curado aos sacerdotes para testemunhar sua nova condição, Jesus confronta o sistema de pureza legal representado por eles. Eles devem perceber que os tempos messiânicos, preanunciados por Isaías, estão chegando. O Reino de Deus está próximo.

Como conseqüência de sua ação de superação do sistema preconceituoso, o leproso volta para o convívio dos seus e Jesus vai para o lugar do leproso, pois fica retirado dos locais públicos. Percebe-se aqui uma consequência de Is 53,4: “ele carregava nossas doenças”.

Relação com Lv 13,1-2.44-46

A descrição que Lv 13 e 14 faz dos leprosos mostra, no mínimo duas coisas: a preocupação de não contaminar as demais pessoas e, ao mesmo tempo, a grave situação de exclusão que os contaminados viviam, bem como seus familiares que perdiam seus entes queridos. O NT, na pessoa de Jesus, supera completamente esta visão. Os cristãos também devem cuidar para não contaminar ninguém, mas tiram dos ombros dos doentes, a grave chaga da maldição divina, dando-lhe atendimento e acolhida.

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