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Tomar remédios ou melhorar o ambiente?

por Rudimar Galvan

Pesquisa aponta que ambientes organizados e enriquecidos são tão bons quanto remédios quando o assunto é redução de estresse¬

A procura pelo bem-estar é constante e é uma preocupação comum na atualidade. Seja na descoberta de novos tratamentos para doenças e transtornos, seja na busca pela qualidade de vida, diversas pesquisas são realizadas nas mais diversas áreas do conhecimento. Contudo, a quantidade de medicamentos utilizados ao longo dos anos também é uma preocupação e provoca os cientistas a encontrar alternativas. Pesquisadores da Universidade de Passo Fundo (UPF) estão entre os que procuram respostas. Em um estudo recente, eles encontraram evidências de que, tanto as manipulações farmacológicas quanto as ambientais são semelhantes quando o assunto é a diminuição do estresse.

 

A pesquisa utilizou o já conhecido peixe-zebra (zebrafish), peixe que demonstra comportamentos e respostas semelhantes aos encontrados nos seres humanos e por isso tem sido amplamente utilizado em pesquisas de várias áreas, incluindo neurociências e testes de novos medicamentos. Em um estudo inicial, os peixes foram mantidos isolados ou agrupados em aquários contendo apenas água, verificando-se que os peixes isolados apresentaram redução na resposta a desafios. No segundo estudo, tanto os peixes isolados quanto os agrupados foram expostos a medicamentos ansiolíticos (Fluoxetina e Diazepam) ou a ambientes enriquecidos (que se aproximavam do ambiente natural da espécie). Então, o resultado mais animador do estudo apareceu. Tanto os medicamentos quanto o enriquecimento do ambiente promoveram o mesmo efeito em reduzir o estresse dos animais. Isso apontou que o enriquecimento ambiental pode ter um efeito tão potente quanto os medicamentos, funcionando como alternativa terapêutica para reduzir o estresse e promover o bem-estar.

 

Estudo inovador com modelo animal de sucesso

Um dos modelos de peixe mais utilizados em estudos, o peixe-zebra tem sido uma importante ferramenta na descoberta de novas metodologias, uma vez que sua genética é bastante similar à dos humanos. De acordo com o professor Leonardo José Gil Barcellos, que é o pesquisador orientador e responsável pelo trabalho, o peixe atua como um organismo modelo em neurociência e estudos comportamentais.

 

Apesar de sua recorrente utilização, o grupo destaca que não existem muitos estudos sobre os efeitos do enriquecimento ambiental e a sua associação com substâncias psicotrópicas nas mais diferentes condições de habitação e em resposta ao estresse.

 

Foi pensando nisso que o trabalho foi desenvolvido. “Nossa hipótese é que o efeito da melhoria do estresse pelo enriquecimento ambiental ocorre a partir do fornecimento de uma sensação de segurança ou de segurança em um ambiente natural com alternativas de refúgio. A diferença entre os diferentes espaços, organizado e estressante, está no contexto em que os peixes estão alojados. Como o ambiente enriquecido é um ambiente natural que oferece bem-estar com plantas, areia e pedras, ele pode servir como proteção contra ameaças e interação; enquanto o aquário estéril não atende a essas condições, deixando os peixes mais vulneráveis”, explica.

 

Dessa forma, a pesquisa concluiu que a manipulação ambiental pode ser vista como uma abordagem não farmacológica para reduzir o estresse e alterar comportamento depressivo. Nos seres humanos, o enriquecimento do meio ambiente pode ser considerado um tratamento complementar para autismo e perturbações afetivas.

 

O estudo foi o componente principal da tese de doutorado em Farmacologia da professora Ana Cristina Varrone Giacomini. Integram a equipe de pesquisa a professora Dra. Maria Tereza Friedrich (UPF), os doutorandos Murilo Abreu e Gessi Koakoski, a mestranda em Química Nathalia Saibt (UFSM) e os alunos dos cursos de graduação em Farmácia e Medicina Veterinária da UPF, Rodrigo Zanandrea e Darlan Gusso. Também atua como colaborador externo e coorientador o professor Dr. Angelo L. Piato (UFRGS). A orientação e a supervisão são do professor Leonardo José Gil Barcellos.

 

Artigo publicado

O trabalho já foi reconhecido e foi publicado na revista Scientific Reports, uma publicação do grupo Nature. O artigo pode ser acessado aqui. http://www.nature.com/articles/srep28986

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