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“A vontade de conquistar meus sonhos vai além das minhas limitações”, diz acadêmica

por Rudimar Galvan

Mesmo com dificuldades motoras, Eline Ester Grossi mostrou que, com força de vontade, tudo é possível

Uma rotina desgastante de uma hora de viagem todos os dias não foi suficiente para desmotivar a acadêmica do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Eline Ester Grossi, natural da cidade de Rondinha. Em busca de sonhos e conquistas, ela lutou com todas as forças, tornando-se um exemplo de como basta ter vontade para ampliar horizontes do conhecimento. Mesmo diante das dificuldades motoras, Eline conquistou a formação acadêmica e já pensa em alçar novos voos em busca de outras conquistas.

Eline conta que adoeceu aos nove anos de idade, quando passou a utilizar cadeiras de rodas. Ela foi diagnosticada com Dermatopoliomiosite Juvenil (DMJ), uma doença autoimune e multissistêmica, que afeta principalmente a pele e os músculos, predomina no sexo feminino e pode se manifestar até os dezoito anos de idade. “É uma doença rara, um tipo de reumatismo que se agravou com o passar do tempo e deixou muitas sequelas. Agora, a doença está estabilizada”, comenta a acadêmica, citando que é uma doença de etiologia desconhecida e são poucos os estudos e pesquisas encontrados referentes à patologia.

Desde 2006, Eline profere palestras sobre valorização da vida e, nesses encontros, conta um pouco da sua trajetória. Para qualificar esse trabalho, em 2010, ela iniciou o curso de Psicologia. “Com a Psicologia, tenho recursos teóricos. As palestras se intensificaram e se modificaram diante do que aprendi”, destaca. Segundo ela, a formação superior também foi motivada pela necessidade de trabalhar além do corpo físico. “Meu interesse pelas Ciências Humanas e Sociais sempre foi grande e o curso veio de encontro a uma vontade de muito tempo. Terminei o ensino médio e fiquei sete anos parada. Escolhi Psicologia porque, nesse tempo de adoecimento, a preocupação maior sempre tinha sido o corpo físico, mas existia outro aspecto que precisava de cuidado: a mente”, declara ela.

Apoio incondicional
A trajetória de Eline foi amparada pela Dona Ivone e pelo Seu Edis Grossi, que não mediram esforços para auxiliar a filha. Residindo em Rondinha, todos os dias precisava deslocar-se até Passo Fundo para as aulas e, nessa incansável caminhada, a mãe teve papel fundamental, acompanhou a filha todos os dias, até a conclusão do curso.
 
“Logo no início foi difícil, porque tenho dores crônicas. A doença se instalou e sofro com as sequelas. A maior dificuldade foram as viagens, cansava muito e, nem por isso, desisti. A vontade era muito grande”, comenta ela, que sente-se grata pelo cuidado e afeto que a família dispensou durante o curso. “Preciso de auxílio para muitas coisas, não tenho capacidade de locomoção, preciso de alguém que empurre a cadeira, que alcance as coisas. No entanto, para tudo o que eu tinha vontade, sempre recebi apoio da minha família”, destaca.

Conclusão do curso
Diante da sua condição, o caminho até a universidade foi longo para Eline. Apesar disso, dia após dia ela precisou bater de frente e enfrentar os desafios. “A vontade que tenho de viver é muito grande, mesmo com todas as dificuldades. Sou fisicamente frágil, tenho movimentos muito limitados, mas a vontade de conquistar meus sonhos vai além das minhas limitações”, reitera a acadêmica, explicando que a sociedade coloca rótulos quando há limitações. No entanto, ela foi além desse estereótipo. “Eu mesma tentei tirar esse rótulo, passei a me olhar de modo diferente. Entrei menina na faculdade e hoje saio madura. Foram visíveis as mudanças”, avalia.

Além do auxílio da mãe, Eline contou com a atuação do Setor de Atenção ao Estudante (Saes) da UPF, que acompanhou a acadêmica durante o curso. O trabalho de conclusão do curso teve um tema especial “Deficiência, corpo e Psicologia - muito além das aparências”, orientado pela professora Ciomara Benincá e examinado pela banca composta pelas professoras Carla Tarasconi e Suraia Ambros, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).

O estudo traz um relato de experiência como metodologia, onde Eline traz os marcos da sua trajetória, desde o adoecimento, aliando teoria à sua história de vida. “Descobri que mesmo com minha aparência fragilizada, esteticamente debilitada, consegui despertar a mulher adormecida e, aos poucos, cresci como pessoa e profissional. A vivência pode se transformar em conteúdo a ser compartilhado e utilizado como inspiração para outras histórias”, relatou, em seu trabalho de conclusão, apresentado nessta quarta-feira, dia 24 de junho.

Aos 35 anos, cheia de garra e determinação, Eline já aguarda com ansiedade por uma data especial: 15 de agosto de 2015, sua colação de grau. A felicidade é imensa e a ansiedade aumenta a cada dia. No mesmo mês em que conclui a graduação, ela quer ingressar em algum curso de especialização e a indecisão está apenas na área que vai seguir: psicologia escolar ou gestão de pessoas e liderança. “A minha vontade de conquistar o que quero vai além das minhas limitações”, finaliza a formanda em Psicologia.

 

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