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“Vida boa é a de padre”

Miguel Debiasi

Em figuras de linguagem as comparações e metáforas são constantes. São recitadas em todas as formas de discursos, dos mais eruditos aos de linguagem de senso comum. Na maioria das vezes têm notáveis benefícios na compreensão dos diálogos. Tais códigos linguísticos quando bem articulados esclarecem ideias e sentidos.

Ao recorrer a essa linguagem geralmente as pessoas se reportam à analogia do ser. O imensurável valor do ser humano tem significação na comunidade. Embora a vida humana transcenda a comunidade, a pessoa está inserida em um contexto histórico, representativo de valores. Isto é, faz parte de uma determinada cultura que está sujeita à comunidade, com suas próprias características e limitações. Sendo esta a única condição para viver a vida humana, observa-se que a atual sociedade tende à secularização. Além disto, a secularização propõe outras normativas para viver a vida humana. Em outras palavras, os conteúdos de fé com suas orientações religiosas e morais são substituídos e deixam de ser imprescindíveis e normativos.

Contudo, mesmo na pretensão da sociedade respirar o livre ar da liberdade de escolhas, não consegue livrar-se e excluir os símbolos sagrados de seus jogos linguísticos. Tem-se ouvido seguidamente expressões como: “comi como um padre”; “vida boa é a dos padres”; “os padres têm vida boa”; “feliz é o padre, que não tem esposa, sogra, filhos e família”; “na próxima vida quero ser padre”; “meu sonho era ser padre”; “eu queria muito ter a vida de padre”. Sem dúvida todos já ouviram muitíssimas vezes essas expressões. De certa maneira é possível perceber uma honestidade e diferenciar as brincadeiras nas comparações. Porém, tais pronunciamentos entendem haver diferentes caminhos e elementos constitutivos de felicidade humana.

Então, é real que a humanidade carece de realizar-se plenamente em suas escolhas. As pessoas, na condição de livres, se realizam ou não com suas escolhas. A escolha pelo sacerdócio é decisão de quem deseja fazê-la livremente. E quem a escolhe para sua vida compreende ser necessário bom discernimento para proporcionar-lhe felicidade. Pois o caminho de felicidade do sacerdócio é viver a palavra de Jesus de Nazaré que ocupa o lugar central em todas as suas relações humanas. A felicidade do sacerdote está associada precisamente à capacidade de doação a Cristo. Ademais, ser lembrado em qualquer conversa é sempre uma promoção vocacional. Então, continuem divulgando que a vida do padre é boa. Como deveras é. Assim, quem sabe despertem muitos jovens para abraçarem a vida sacerdotal. Desse modo, as comparações são frutíferas para ambos os lados. Se for correta a leitura, será vindoura a opção pela vida sacerdotal.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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