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Símbolos e espaços (II)

Miguel Debiasi

Dando continuidade à reflexão sobre o tema abordado anteriormente, a retirada dos símbolos religiosos de espaços públicos, pode-se considerar a questão como pertinente ao debate teológico na sociedade contemporânea. A presença de crucifixos em espaços públicos, além de expressar a tradição e a formação religiosa da nação, converge para sua histórica cultura. Em contexto de pluralismo religioso, seria necessário soluções aceitáveis a pessoas de diferentes convicções, o que é um desafio para a Teologia.

A decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, sem dúvida, abre um caminho de novas possibilidades de engajamento da Teologia que precisa transcender os âmbitos acadêmicos. A decisão pela retirada dos crucifixos diz respeito à relevância da Teologia em participar mais ativamente dos debates em questões públicas. Cabe à Teologia refletir na perspectiva de articular ciências, culturas, religiões, valores que constituem vida social, política e cultural de uma sociedade. Teólogos como Karl Rahner, Andres Torres Queiruga, Leonardo Boff, Antônio Mozer, Gustavo Gutiérrez, Rudolf Von Sinner, Márcio Fabris dos Anjos e outros sublinharam por uma Teologia Pública capaz de dialogar com a sociedade contemporânea.

Por uma Teologia voltada às questões da sociedade, o teólogo Márcio Fabris dos Anjos escreve: “o discurso sobre Deus e suas correspondentes crenças, colocado no espaço da sociedade plural, pode ser chamado de Teologia Pública”. Jürgen Habermas advoga e debruça-se sobre a presença da “religião e da teologia na esfera pública”. Hugo Assmann advoga pela Teologia da solidariedade da cidadania. José Comblin por uma Teologia da cidade. Rubem Alves diz “a Teologia é um jogo quando a vida está em jogo”. A teóloga brasileira Eneida Jacobsen propõe a reflexão pública em dimensões teórica e de atuação. O teólogo sul-africano Dirk Smit aponta para a diversidade de temáticas públicas que a Teologia precisa refletir. O teólogo Leonardo Boff articula a Teologia da Criação, a questão do ecossistema. O Papa Francisco apela por uma “Igreja em saída” e propõe muitas temáticas para reflexão, como a da Casa Comum, uma ecologia integral.

Isto tudo tem demonstrado que é saudável a Teologia propor uma reflexão pública e sobre ir além do debate confessional. Junto a isto, hoje no Brasil há a realidade de que nenhuma instituição tem tanta aceitação como as Igrejas. Ao gozar desta confiança da população amplia-se a responsabilidade da ciência teológica. Isto é, cabe a ela encabeçar debate com maturidade religiosa, social e cultural em prol da construção da cidadania na qual símbolos religiosos e atividades civis, judiciárias e políticas garantam a liberdade religiosa e o respeito pela cultura histórica. No entender dos juízes, a cruz seria símbolo de uma convicção religiosa e não a expressão da cultura ocidental formada também pelo cristianismo. Hoje as vozes são polifônicas e polissêmicas, pois o argumento pela manutenção precisa ser dito de forma pública.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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