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O sequestro de Jesus

Vanildo Luiz Zugno

Calma! Não foi bem um sequestro. Falando com mais propriedade, foi uma tentativa de sequestro. Melhor dizendo: conforme os evangelhos, foram três as tentativas. E, felizmente, as três falharam.

A primeira está descrita no Capítulo Três do Evangelho de Marcos. Uma tentativa estranha. Foram os próprios familiares de Jesus que tentaram tirá-lo de circulação à força. Ele apenas havia começado sua missão na Galileia e sua ação e pregação provocavam as reações mais controversas. Uns afirmavam ser ele o Messias esperado. Outros viam no pregador ambulante e curandeiro uma ameaça para a estabilidade religiosa e social. Quando ao redor dele começou a formar-se um grupo de seguidores, os familiares ficaram apreensivos com o que poderia acontecer. Aproveitando uma ocasião em que ele estava perto de casa, saíram para detê-lo à força sob o argumento de que enlouquecera. A tentativa de sequestro de Jesus por parte dos familiares não teve êxito pois ele, desconsiderando até os argumentos da mãe e dos irmãos, continuou a pregar e a curar à beira do Lago da Galileia.

A segunda tentativa de sequestro sofrida por Jesus é narrada no Evangelho de João. O objetivo aqui não era o de tirá-lo de circulação, mas buscá-lo para fazê-lo rei. Está no Capítulo Seis, no episódio da distribuição dos pães e dos peixes. A multidão estava faminta e, contra todo cálculo, os pães e os peixes que alguns traziam foram distribuídos e houve para todos e ainda sobraram doze cestos. O Evangelho diz que, vendo tal sinal, as pessoas o aclamaram como profeta e queriam que Jesus se tornasse o rei deles. O texto não diz exatamente quem queria fazê-lo rei. Supomos que seria a multidão antes faminta e agora saciada. No pano de fundo da memória de todo judeu fiel, estava o profeta Elias que fizera o punhadinho de farinha da viúva de Sarepta bastar para ela e sua família e o próprio Elias durante três anos. Diante desta segunda tentativa de tomá-lo pela força, Jesus se retira para as montanhas a fim de não ser sequestrado e obrigado a fazer o que não queria.

A terceira é a mais terna e a que mais faz pensar. Também é descrita por João. E a sequestradora é uma mulher, Maria Madalena. Ao reconhecê-lo ressuscitado, a discípula quer retê-lo para si. Jesus reage com um “não me detenhas” e se vai, segundo ele, para junto do Pai. Maria parte correndo contar tudo o que aconteceu aos companheiros de discipulado. A tentativa de sequestro termina em missão para a intencional sequestradora!

Em cada uma das tentativas, um motivo bem diferente para detê-lo e uma razão para ele não se deixar. Em todas, Jesus mostrou-se cioso de sua liberdade e da originalidade de seu projeto libertador. Nunca se deixou sequestrar. Até quando vieram prendê-lo para matá-lo, segundo o Evangelho de João, ele só se entregou porque quis.

Jesus sempre foi e continua livre! É bom saber e é preciso repetir essa verdade. Ainda mais nestes tempos em que tantos tentam prender Jesus dentro de seus esquemas teológicos, religiosos, eclesiásticos, litúrgicos, morais, canônicos e, ultimamente de maneira acentuada, tenta-se tornar a pessoa de Jesus refém de projetos políticos e sociais idolátricos. Nem seus familiares, nem seus amigos e muito menos os inimigos poderão detê-lo. Sua mensagem sempre foi e sempre será libertadora de todas as prisões e de todos os grilhões. Podem tentar prendê-lo e até apoderar-se de seu nome por um tempo. Mas nunca poderão prendê-lo para sempre porque ele é libertação!

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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