Você está ouvindo
Tua Rádio
Ao Vivo
14:00:00
Em Alta
18:00:00
 
 

O otimismo foi destruído pela realidade

Miguel Debiasi

 

Os problemas de relações políticas e econômicas entre nações, a escassez de recursos naturais, a deterioração ambiental, a ausência de fontes de energia limpa, a falta de alimentação suficiente e acessível para a população, estarão no centro da atenção mundial. Uma solução momentânea para estes problemas não seria a mais válida. Normalmente, as soluções estão restringidas aos limites definidos pela economia, portanto, do utilitarismo. Sob olhar da economia utilitarista a subsistência das pessoas, do planeta, do universo estará em terceiro e quarto plano.

Os economistas britânicos David Ricardo (1772-1823), autor da obra Princípios de economia política e de tributação (1817), com Adam Smith (1723-1790), são considerados os maiores representantes da economia política clássica. Adam Smith é considerado o pai da economia moderna e o mais importante teórico do liberalismo econômico. Smith em sua obra a natureza e as causas da riqueza das nações (1776), sustenta três argumentos: 1º) só é produtivo o trabalho manual. O trabalho manual cria bens materiais que tem valor real ou objetivo de troca ou venda e compra; 2º) o trabalho dos cientistas, políticos, professores, governantes são produtores de bens imateriais. Estes bens imateriais contribuem indiretamente para a riqueza nacional. A riqueza de uma nação será tanto maior quanto menor for o número de ociosos; 3º) alcance-se o ápice da sabedoria quando o Estado, deixa o indivíduo livre para alcançar o máximo de bem-estar pessoal. Quanto maior o bem-estar pessoal maior é o da nação, portanto, de todos os indivíduos.

O liberalismo econômico de Smith pode ser definido nesta conclusão: a vantagem pessoal leva cada indivíduo a preferir a ocupação mais vantajosa que também é para a coletividade. Na ocupação vantajosa existe uma “harmonia natural” ou uma “ordem natural”, no sentido que cada indivíduo é um bem-estar para todos, como para o Estado. Nesta lógica, parece-nos bastante óbvio, que a primeira intenção do indivíduo não é contribuir com a coletividade e o interesse geral, criando uma sociedade harmônica. Pois, a coletividade é estranha aos interesses do indivíduo. A consequência do liberalismo de Smith não é propriamente o bem-estar de todos, mas do indivíduo. E Smith se justifica, ainda que uns poucos ganharam muito, mas logo outros passaram a produzir os mesmos bens e aumentando a oferta e os preços igualarão aos custos. Com isso, todos ganham, indivíduo, coletividade e Estado. Mas a crise econômica, mostra que esse otimismo liberal de Smith não se realiza em toda coletividade. Pior, apenas para alguns indivíduos detentores dos grandes meios de produção.

No otimismo de seu conterrâneo, do economista David Ricardo, o valor de um bem é igual ao trabalho para utilizado para produzi-lo. As mercadorias ou produtos tem o valor do trabalho necessário para produzi-lo. David admite que o melhor preço para as mercadorias é alcançado no mercado livre através do jogo da oferta e procura. Porém, David recusa-se admitir que o melhor salário seja alcançado mediante o mesmo jogo, da oferta e da procura. Essa equação de David não se aplica ao trabalhador, porque este não entra com a posse do valor do produto. Nisso chegamos a questão, quem trabalha não recebe o valor do seu trabalho. Ao proprietário, que menos trabalha recebe mais do que o trabalhador. E no jogo da oferta e procura os preços das mercadorias aumentam, das quais não é necessária nenhuma hora adicional de trabalho.

Tudo isto nos leva a uma compreensão bastante lógica: os salários não aumentam conforme o jogo da oferta e procura. Nisto fica claro, os preços deveriam cair, porque, não há procura, o trabalhador não recebe seu valor real pelo seu trabalho. Aqui abre-se uma fenda imponente no edifício da “harmonia e ordem natural” que defende Smith. O filósofo Karl Marx contrapõe-se a essa lógica da economia liberal por corromper a sociedade ou da ordem social. A ideia de Smith legitima a discrepância entre trabalho com o valor do produto e entre o salário recebido pela produção do produto.

A economia liberal no Brasil afunda com a produção industrial em queda, ficando 20,2% abaixo do nível ou pico de maio de 2015. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que houve uma queda de outubro de 2020 a 2021 de 7,8%. Para o IBGE a indústria nacional enfrenta um cenário de inflação e o alto desemprego, em meio ao problema da cadeia de oferta global, falta de matéria-prima e encarecimento dos custos de produção. A situação leva a concluir que o otimismo do liberalismo econômico foi derrotado pela realidade, onde a economia não cresce, o trabalhador não recebe para consumir o básico e para adquirir as mercadorias indispensáveis. Nessa prática, não ocorrerá o ápice da economia do Brasil como entreviu Smith e reforça Paulo Quedes, do assegurar o bem-estar para todos os indivíduos. Infelizmente, no Brasil, o empobrecimento dos trabalhadores e da classe média é realidade, fato constatado por todos os institutos de pesquisa e estatística. Diga-se, de uma realidade que o governo e a imprensa comercial não conseguem mais esconder e manipular dos olhos da população.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

Enviar Correção

Comentários

Newsletter Tua Rádio

Receba gratuitamente o melhor conteúdo da Tua Rádio no seu e-mail e mantenha-se sempre atualizado.

Leia Mais