“Não matarás”
As Sagradas Escrituras são para um cristão o ensinamento a ser acolhido e praticado. Elas são a Palavra do Senhor revelada aos profetas, ao seu povo e a sua Igreja. Em razão desta revelação divina todos os textos bíblicos são essenciais, como o dos dez mandamentos. A observância dos mandamentos abre caminho para a vivência do Evangelho. Em contexto de crescimento da violência, intolerância, homofobia, misoginia, racismo, os mandamentos passam a ser uma orientação fundamental para o cristão contemporâneo.
Os dez mandamentos foram relevados por Deus a Moisés no deserto do Sinai (ou montanha de Deus) em plena caminhada do povo de Israel rumo à Terra Prometida, à libertação da escravidão (Êxodo 20,1-17). Os mandamentos são mencionados em quase todos os livros das Sagradas Escrituras. A observância aos mandamentos visa constituir o povo do Senhor livre e capaz de respeitar a vida da criação e do próximo. Com isso, o povo escolhido por Deus deixaria de se constituir numa sociedade baseada na escravidão que leva à morte. Dessa forma, os mandamentos exprimem a resposta que o homem dever dar a Deus e ao próximo para conservar sua liberdade e vida para não se tornar escravo.
No primeiro mandamento o povo está proibido de adorar a outros deuses que acarretam escravidão e castigo, como o dinheiro. No segundo o povo está proibido de usar o nome de Deus libertador para acobertar injustiças e opressão. No terceiro há a proibição de explorar o irmão tornando-o escravo sem o dia de descanso para refazer sua consciência de que o resultado do trabalho é para gozar o dom da vida. No quarto mandamento há o dever de honrar os pais e não os poderes do Estado ou de qualquer outra autoridade que oprima. O quinto, que é o central, não proíbe apenas atentar contra a vida do outro, mas condena qualquer sistema de opressão e exploração que reduz a vida a uma condição sub-humana, levando-a à morte prematura.
De fato, quando Deus se dirige a Abraão, considerado pai da fé para os cristãos, diz-lhe: “Eu sou o Deus todo-poderoso. Comporte-se de acordo comigo e seja íntegro” (Gênesis 17,1). A primeira página da Sagrada Escritura começa apresentando Deus vivo e criador das coisas vivas e que a ele pertencem (Romanos 11,36). Pelas páginas Sagradas, tudo na vida deve sua existência a Deus (Gênesis 1,1-31; 2,1-3). Em suma, ele é o Deus da vida, qual a sobrepujou por meio de Jesus, porque nele estava a vida (João 1,4). A palavra de Jesus é a vida, o alvorecer de um novo dia trazendo luz para todos os homens e dissipando as trevas (1João 2,8).
Contudo, é preciso observar que há pessoas que se dizem cristãos, mas seguem um caminho contrário ao do Senhor, como justificar o porte de armas. O decreto assinado pelo Presidente da República Jair Bolsonaro, publicado no Diário Oficial da União (DOU) (altera o Decreto nº 5.123, de 1º de julho de 2004, que regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro) praticamente libera o porte de armas para 20 categorias, de políticos a caminhoneiros, advogados e até jornalistas, dependendo da função. O ministro da justiça, Sérgio Moro, admitiu que já liberou o porte de armas para mais de um milhão de pessoas, nada tendo a ver com a segurança pública, apenas para saldar o compromisso de campanha do presidente. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disparou dez tiros de fuzil de um helicóptero sobre uma tenda de orações de evangélicos. Como disse o diácono da Assembleia de Deus, Shirton Leone, “poderia ter sido uma tragédia”.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) afirmou que “o decreto sobre as armas é só para agradar os ricos”. Especialistas dizem que o decreto da liberação das armas vai aumentar a violência, as mortes, a insegurança, o número de trabalhadores assassinados no campo e na cidade. O decreto da liberação das armas coloca o Brasil num regime de faroeste, quem atira primeiro ou for mais rápido no gatilho sobrevive em nome de falsa defesa. A obsessão e fascínio do presidente pelas armas trarão consequências trágicas à população empobrecida e desprotegida pela segurança do estado. Observe-se ainda que pela sua postura de submissão aos interesses dos mais afortunados e pelo desejo de vanglória da família Bolsonaro, todos brasileiros foram colocados num regime de faroeste. Logo, de um comportamento contrário ao Evangelho, ao plano de Deus. Aliás, o lema “Deus acima de tudo” na boca do presidente é uma hipocrisia. Uma máscara.
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