Curso sobre o golpe parlamentar
A realidade e os acontecimentos que dizem respeito aos cidadãos é área de pesquisa das ciências humanas. Uma das condições de produção de conhecimento vem da percepção da realidade social das pessoas e de sua pesquisa. Algumas universidades do Brasil estão incluindo no curso de Ciência Política a disciplina optativa “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. Certamente uma iniciativa que levará ao conhecimento dos universitários as intenções e resultado do golpe.
Em ciências humanas o método de pesquisa pressupõe um processo de construção coletiva do conhecimento. A produção de conhecimento se dá pelo intercâmbio de informações e na construção da consciência crítica. Em razão desta natureza das ciências humanas todo o conhecimento tem uma função social, a de contribuir para o desenvolvimento humano da sociedade e dos cidadãos. Então, a produção de conhecimento articula subsídios teóricos e experiências humanas em prol de melhor qualidade de vida. Por sua vez, todos os esforços em termos de pesquisa acadêmica são para intervir na realidade e cumprir seu papel social na significação da vida das pessoas e da sociedade. Em suma, o conhecimento pode ser produzido pela percepção e estudo da realidade quando colocado à disposição através de um método de ensino.
A partir da necessidade de compreensão da realidade em seu contexto social e político, várias universidades brasileiras estão incluindo em seus programas de graduação uma nova disciplina, a que aborda o assunto do golpe. A iniciativa já é assumida por 33 universidades e o idealizador do curso é o professor da UnB, Universidade de Brasília, Luiz Felipe Miguel. Além das instituições brasileiras a Universidade de Bradford, da Grã-Bretanha, a do México (UNAM) e a da Colômbia (Universidad de los Andes), vão proporcionar aulas sobre o golpe parlamentar de 2016. Ignorar o golpe que fortemente incidiu e continua a intervir de forma negativa na vida dos cidadãos e no futuro da nação seria lapso das universidades e dos intelectuais. Pior, seria consentir com aquilo que está sendo proposto ao Brasil por parte da classe política e setores conservadores.
Com essa iniciativa das universidades, para o sociólogo Jessé Souza, autor da clássica obra “A Elite do Atraso” e apresentador do programa “A Batalha” na TV 247 (canal de notícias no YouTube), “o golpe está começando a se tornar um consenso, inclusive em todas as classes”. A universidade, ao propor um curso sobre o golpe, demonstra a importância que o fato representa para a população brasileira e para a política internacional. Também demonstra que o papel do ensino público é proporcionar debates e a sistematização de elementos teóricos que levem esclarecimento sobre a atual situação do Brasil.
Com esse propósito, segundo a professora Ana Rita Fonteles Duarte, da Universidade Federal do Ceará (UFC), “o curso vai ser uma oportunidade de professores e alunos debaterem e constituírem discussões em torno dos rumos da política do país”. Já para o professor Luiz Felipe Miguel do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, “a proposta vem valorizar a pluralidade e a ideia da universidade como local de liberdade e de debates”. A iniciativa do curso sobre o golpe levará ao debate e ao conhecimento do público as verdadeiras intenções dos setores conservadores que reassumiram o poder governamental. Através do debate acadêmico trata-se de informar a sociedade sobre a articulação política que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o fim das políticas públicas de avanços sociais com a aprovação de reformas antipopulares. O curso irá proporcionar um contraponto a grupos midiáticos coniventes com a atual situação, e fomentar maior consciência política nos cidadãos brasileiros. A iniciativa só tende a ganhar crédito e apoio acadêmico e público.
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