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Combata o racismo (II)

Miguel Debiasi

Em continuidade à crônica anterior transcreve-se o relato de uma vítima de racismo. Transcreve-se por duas razões. A primeira porque o racismo é um mal que perdura em nosso tempo. A segunda razão, o fato não pode passar em brancas nuvens. A vítima descreve o fato para a direção da EST, Escola de Teologia de São Leopoldo, da qual participou como convidado de um Seminário Internacional. Diante de um fato extremamente grave, é necessário chegar à compreensão do que isto significa e representa na vida de um ser humano vitimado.

“Meu nome é Reverendo Joel MbongiKuvuna. Sou natural da República Democrática do Congo, estudante de doutorado na Universidade de KwaZulu-Natal na África do Sul e pastor da Igreja Protestante. Escrevo para expor o tratamento desumano a que fui exposto em 21 de outubro de 2016, ao término do Seminário Internacional ocorrido em São Leopoldo, no Brasil. Quando retornávamos às nossas cidades de origem através do aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, por volta de 17h, fui cruelmente humilhado pelo Departamento da Polícia Federal de Porto Alegre. Quatro policiais sem uniforme militar, mas fortemente armados, vieram na nossa direção extremamente furiosos e nos retiraram do setor de embarque: dois professores e dois alunos norte-americanos e eu, logo após o check-in. Nesse instante nos retiraram os passaportes violentamente, sem qualquer explicação, ordenando que os seguisse; instalaram-nos em seu gabinete, onde insistiram que meus colegas norte-americanos me deixassem sozinho em uma sala separada. Neste momento finalmente entendi que eu era o alvo do episódio. Mas o que eu havia feito de errado? Minha única falha seria a de ser negro e portar um passaporte africano. Quando meus colegas saíram da sala, os agentes abriram minhas bagagens e espalharam meus pertences, sem que eu pudesse perguntar o que havia de errado, dizendo apenas que eu ficasse calado. Quando um dos agentes encontrou minha loção, disse com desdém: “Africanlotion!”. Então chamaram seu cachorro para me farejar. Ao não encontrar nada, me obrigou a tirar toda a minha roupa e o forçaram a me farejar mais três vezes. Quanto mais os agentes não confirmavam sua expectativa, mais furiosos ficavam. Finalmente, após confirmar a inexistência de qualquer irregularidade, nada foi explicado a respeito do que estava sendo procurado e qualquer pedido de desculpas foi feito. Eles apenas disseram para que eu recolhesse as minhas coisas e saísse. Eu chorei como nunca antes, desde que me tornei adulto”.

A carta continua descrevendo o modo desumano como o Reverendo africano foi tratado pelos agentes do Departamento da Polícia Federal de Porto Alegre. Sendo verdadeiro, o fato fere a sabedoria e a consciência de uma nação inteira. No relato das vítimas se compreende que o racismo é uma atitude abominável para todo ser humano. Como já foi dito, as práticas e ideologias do racismo são universalmente condenadas pela ONU, na Declaração dos Direitos Humanos. Combater o racismo é tarefa de hoje

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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