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Com a mesma medida que julga será julgado” (Mt 7,2)

Miguel Debiasi

O ensinamento de Jesus aos seus discípulos e seguidores “não julgueis e não sereis julgados” indica incapacidade do ser humano emitir um julgamento justo. Somente Deus tem esse poder de usar uma medida correta e justa com toda pessoa. Em outros termos, o ser humano desconhece sua própria fragilidade interna, portanto, incapaz de observar as virtudes do outro. Este ensinamento pode iluminar muito a missão da vida cristã contemporânea.

 

O ensinamento de Jesus em Mateus (7,1-2) afirma o que é fundamental: as relações de comunhão fraterna são essenciais para a vivência da fé cristã. Na recomendação de Jesus é preciso evitar o julgamento de pessoas, do próximo, pois somente Deus tem esse poder e essa autoridade. São Tiago, em sua carta aos cristãos da Igreja primitiva, aprofunda o ensinamento de Jesus: “porque o julgamento será sem misericórdia para quem não tiver agido com misericórdia” (Tiago 2,13). Em outras palavras, Tiago diz que quem não for misericordioso com o pobre como Deus manifesta ser, será julgado sem misericórdia. Na verdade, quem pratica a misericórdia com o pobre não tem motivo para temer o julgamento de Deus.

 

Judeus e cristãos com esperança de um bom julgamento divino, por influência da literatura bíblica procuram praticar as obras da justiça do reino de Deus. Prejudicar ao próximo e não defender os pobres e marginalizados não se compreende de forma alguma ser a vida da comunidade cristã. O cristão não pode se comprometer com estruturas injustas da sociedade e do mundo. Por isso, no “não julgar” Deus oferece aos seguidores o ensinamento de lutarem pela dignidade das pessoas para que todos participem das obras do seu Reino. O favoritismo pelos ricos não condiz com o Reino de Deus, por isso, ação em prol do pobre tornou-se a condição definitiva para a realização e concretização da justiça divina (Mateus 25,31-46).

 

Em contexto político, no qual governar tornou-se sinônimo de privilegiar grupos econômicos, avaliar os governos é uma constante. Conforme o Instituto Datafolha, 30% dos brasileiros consideram o governo de Bolsonaro ruim ou péssimo, mesmo índice daqueles que acham bom e regular. Na pesquisa divulgada em 6 de abril e realizada quando prestes a completar 100 dias no cargo, Jair Bolsonaro teve a pior aprovação, perdeu para Dilma, Lula, FHC e Collor. Ainda conforme pesquisa a maioria dos brasileiros consideram seu comportamento inadequado e grande números de eleitores se dizem frustrados com o governo.

 

Jair Bolsonaro em toda sua vida manifestou publicamente ódio às pessoas que pensam diferente, como aos simpatizantes das ideias socialista, comunista e de um mundo mais igualitário. Por outro lado, manifesta sua preferência pela ideologia fascista, pelos sistemas autoritários, ditatoriais. Isto é, da velha política, por isso, seu fascínio pela ditadura e pelo armamento bélico. Na opinião da jornalista da Globo, Miriam Leitão, “aproximação do Jair Bolsonaro com políticos considerados de extra direita são exemplo e temas que têm pautado este governo. Parecem só inutilidades, mas são, muitas, vezes, atitudes perigosas”. Para o sociólogo Jessé Souza: “a eleição de Jair Bolsonaro foi um protesto da população brasileira. Um protesto financiado e produzido pela elite colonizada e sua imprensa venal”.

 

Lamentavelmente a avaliação negativa do governo Bolsonaro tem maior consequência nos mais pobres. Em três anos, após golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, o Brasil recuou 70 anos, conforme dados do IBGE anteriores a 1947, período após a Segunda Guerra Mundial, sem perceptiva de crescimento econômico. Segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), as empresas registram em abril a menor intenção de contratar novos funcionários dos últimos anos. O Indicador Antecedente de Empregos (IAEmp) registrou a queda de 5,8 pontos do primeiro trimestre do governo Bolsonaro. O instituto Focus aponta a redução da tendência de crescimento da economia de 2% para um 1% em 2019. Segundo a pesquisa da CUT/Vox Populi divulgada em início de abril, 70% dos entrevistados estão insatisfeitos com os rumos do País. Em suma, a única perspectiva que se vê é o aumento do número de pobres ou miseráveis no país.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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