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Cidade: lugar de Teologia

Miguel Debiasi

O relatório da ONU, edição 2014, aponta crescimento da urbanização mundial. Cada vez mais a cidade é o habitat natural do ser humano. A origem da Igreja e a expansão da fé cristã são inerentes ao mundo urbano. A cidade é o berço da organização da comunidade eclesial cristã. Contudo, atualmente a Igreja enfrenta dificuldades com os ambientes urbanos. Em razão disto, a Teologia tem a tarefa de refletir sobre as realidades urbanas.

O levantamento da ONU sobre perspectivas da urbanização mundial constatou um crescimento maior em áreas urbanas. A projeção deste crescimento para o ano de 2050 é um aumento de 66% da população urbana. Isto significa, pelos cálculos da ONU, um acréscimo de 2,5 milhões de pessoas urbanizadas. Países como Índia, China e Nigéria contribuirão com 37% deste crescimento urbano. A Índia terá um crescimento de 404 milhões, a China de 292 milhões e a Nigéria de 212 milhões de habitantes nas cidades. A América Latina teria um crescimento de 14% da população urbanizada. Consequentemente, este crescimento urbano demanda prestação de serviços como saneamento básico, transporte, energia, empregos, saúde, educação, moradias, etc. Para o diretor do Departamento dos Assuntos Econômicos da ONU, John Wilmoth, “gerir áreas urbanas tem-se tornado um dos desafios mais importantes do século XXI”.

Conforme o relatório da ONU, o mundo se tornará globalmente urbanizado. Isto significa que além de constituir mega cidades como Tóquio com 38 milhões de habitantes; Delhi com 25 milhões; Xangai com 23 milhões; México, Mumbai, Osaka, Pequim e São Paulo com 21 milhões, as pequenas e médias cidades crescem rapidamente. Com efeito, pensar uma urbanização sustentável tornou-se uma tarefa das ciências. A cidade é o lugar da civilização. Para o teólogo José Comblin esses ambientes concretos das pessoas são uma realidade humana que a Teologia é desafiada a pensar. Embora a Bíblia inicie suas narrativas com o paraíso do Jardim do Éden, os últimos versículos falam dos “felizes que entrarem na Cidade pelas portas” (Ap 22,14-19). Os textos das Sagradas Escrituras falam amplamente da vida urbana com suas realidades terrenas, concretas, humanas, e apontam que as pessoas virtuosas no Senhor chegarão à Nova Jerusalém, à cidade celestial. As cidades são espaço em que Deus se comunica e confronta a Teologia a pensar estas realidades. Muito além de agrupamentos ou povoações, para Deus as cidades participam da experiência do Reino. Então, refletir sobre a cidade também é tarefa teológica.

No século XX muitos habitantes das cidades abandonaram a Igreja, porém não se afastaram da doutrina cristã. Diante deste fenômeno humano, deduz-se que Igreja não foi criativa na pastoral urbana. Por insuficientes respostas da Igreja da cidade configura-se preocupação da Teologia cristã com a vida urbana. E a reflexão cristã sobre a cidade será bem sucedida quando a Teologia despertar interesse pela urbanização das pessoas. A preocupação teológica não visa construir cidades, mas estabelecer discussão dialética com estas realidades humanas, pois nela há revelação de Deus. Então, a manifestação de Deus leva a Igreja a inserir-se no mundo da cidade como lugar privilegiado para viver a fé e suscitar um modo de vida cristã. Cabe à Teologia a tarefa na perspectiva de que a cidade acende um debate que permite abrir e explorar caminhos de encontro entre Deus e homem.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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