O instrumento musical ao pé da escada permanecia. Estático, na estante da entrada da casa, se mostrava a se lamentar que há muito tempo não era tocado. Ficara esquecido num tempo qualquer entre as lembranças que embalavam meu ser e que acima de tudo me mostravam que era possível ouvi-las.

Era uma casa sonora, mas a musicalidade dos ocupantes daquele lugar era silenciosa. Me questionava o que significava aquele silêncio. Tempo de mudança, transformação, tempo de ensacar ilusões e também as desilusões, ou seja, mudança de planos, falta de incentivo ou qualquer outra coisa...

A musicalidade presente permanecia lá, no silêncio que se orquestrava, em tudo que foi construído... mas, importante agora, reconhecia seu espaço, de onde partira e como conseguiu neste outro lugar chegar.

Nesta casa, os filhos já não faziam parte cotidianamente do cenário, só sobraram os dois que iniciaram essa história e que, agora, seguiam de outro jeito, numa nova jornada. Mas o amor continuava lá, nos gestos de carinho que se faziam presentes, também refletido no cuidado um com o outro. Carecia, no entanto, de constante ressignificação e ouvir a musicalidade que sempre existiu naquele lugar e naquele amor...