Você está ouvindo
Tua Rádio
Ao Vivo
14:00:00
Em Alta
18:00:00
 
 

A lógica é contra o improviso

Miguel Debiasi

A sociedade alemã de sociologia promoveu um congresso em outubro de 1961 na cidade Tubinga, com o tema: a lógica das ciências sociais. O congresso contou com a participação dos filósofos Theodor Adorno (1903-1969) e Karl Raimund Popper (1902-1994). O congresso foi uma oportunidade de confrontar visões, métodos e filosofias das renomadas escolas da Europa. Na qualidade dos autores envolvidos os debates estenderam-se além congresso, provocando uma reflexão por longas décadas sobre a lógica das ciências sociais.

O professor britânico Karl Raimund Popper, um dos maiores filósofos da ciência do século XX, defende a tese da unidade do método científico: “o método da ciência social, como também, o das ciências naturais, consiste na experimentação de tentativas de solução para os seus problemas”. A essência da pesquisa é resolver problemas.  Os problemas se resolvem elaborando conjecturas para a sua observação. Pela elaboração e observação, chega-se a confirmação ou desmentido da teoria sob verificação. Por este método as ciências sociais aprende com seus erros e seus acertos. Em suma, as ciências sociais, como a sociologia, nunca captaram o todo do acontecimento que envolve o ser humano, sua objetividade é parcial.

O filósofo, sociólogo e crítico musical alemão, Theodor Adorno, representante da chamada “Teoria Crítica da Sociedade”, desenvolvida no Instituto de Pesquisa Sociais da Escola de Frankfurt, observa três elementos na lógica das ciências sociais: a) a sociologia não construiu um sistema de leis reconhecidas como comparáveis às ciências naturais; b) a sociologia como ciência tem mais de um século e meio de existência, deveria deixar de comportar-se como uma jovenzinha tímida; c) a defasagem da sociologia espera uma definição da metodologia. Para Adorno, os métodos das ciências não dependem do ideal metodológico, e sim da coisa pesquisa. O método da sociologia deve considerar isto, as coisas observadas e não pode ser indiferente ao objeto analisado.

Em resumo, Popper e Adorno estão a favor a crítica a lógica das ciências sociais. Para ambos, a ciências sociais como a sociologia precisa criticar os fatos, para ver as contradições, perceber o que é ao mesmo tempo racional e irracional. Nem toda opinião e ideia são verdadeiras, pois a sociedade é cega e precisa ser mediada por uma teoria crítica, papel da sociologia. A sociologia, como teoria crítica da sociedade, dos fatos, precisa oferecer a distinção entre falso e verdadeiro. Cabe a sociologia descrever a realidade e a sociedade com objetividade, para chegar ao verdadeiro conhecimento expondo o caráter contraditório dos fatos. Em suma, a ciência social com sua função crítica põe as contradições reais da sociedade e constitui uma consciência não de resignação, mas de transformação da realidade com seus problemas.

A crítica as ciências sociais de Adorno e Popper aponta haver uma disputa de poder e de orientação social que nem sempre se constitui uma verificação ou desmentido dos fatos. O Tribunal de Apelação britânico concedeu em 2021 recurso favorável ao Banco Central da Venezuela de acessar 31 toneladas de ouro depositadas no Banco da Inglaterra. Com essa decisão a Justiça britânica anula o recurso concedido anteriormente ao Juan Guaidó, deputado que se auto proclamou presidente do país, de usufruir dos bens públicos venezuelanos depositados no banco britânico. Anulação surpreende porque o Reino Unido é um dos 50 países que reconhece o deputado Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela desde 2019.

Com a decisão favorável ao Banco Central da Venezuela, o valor depositado no Banco da Inglaterra equivale a cerce de 1,8 bilhões de euros, aproximadamente R$ 12 Bilhões, recurso que o governo de Nicolás Maduro pode direcionar no combater a miséria do povo venezuelano. Aliás, pouco é divulgado, os bloqueios econômicos dos Estados Unidos e da Europa, causam anualmente um prejuízo de bilhões de dólares aos países empobrecidos do chamado terceiro mundo. A decisão do Tribunal de Apelação britânico não deixa de ser uma conquista para as nações do terceiro mundo, em assegurar que seus bens nacionais não sejam usurpados por países desenvolvidos.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

Enviar Correção

Comentários

Newsletter Tua Rádio

Receba gratuitamente o melhor conteúdo da Tua Rádio no seu e-mail e mantenha-se sempre atualizado.

Leia Mais