Subsídios Exegéticos, Liturgia Dominical - Ano B 04 de julho 2021
14º Domingo do Tempo Comum
Subsídios Exegéticos - Liturgia Dominical - Ano B
XIV Domingo do Tempo Comum
Dia: 04 de Julho de 2021
Primeira Leitura: Ez 2,2-5
Salmo: 122,1-2a.2bcd.3-4
Segunda Leitura: 2Cor 12,7-10
Evangelho: Mc 6,1-6
Evangelho
O relato poder ser a continuação lógica de Mc 3,20-35, quando Jesus se confronta com os familiares. Aqui ele se confronta com os conterrâneos de Nazaré e os parentes são novamente citados, agora, até pelo nome.
A perícope faz ligação com a seção dos milagres (4,35-5,43) e a seção da incompreensão (6,7-8,26). Reflete o ensino que se prolongará na próxima seção (v.2-3a) e os milagres da seção anterior (v.3b). Tanto o ensino, como os milagres impressionam, porém isto se choca com a imagem de Deus que os conterrâneos têm oriunda do Antigo Testamento. Eles professam um Deus forte, todo poderoso, justiceiro e vingador, cujo nome – Yahweh - não se poderia pronunciar. Daí resulta que o messias por ele enviado, deveria se enquadrar neste mesmo conceito: forte, imbatível, vingativo e justiceiro. Um messias vencedor.
Jesus, nem de longe se enquadrou nesta ideia de Deus e, por isto mesmo, sua função de messias, também nada tinha a ver com tal concepção. O messias, pensavam seus conterrâneos, vem de lugar desconhecido (Jo 7,27). Ele, no entanto, é o carpinteiro de origem humilde e conhecida. É citado como o filho de Maria, o que pode ser um desprezo, pois israelita que se preza é citado como filho de varão. Citar a mãe, indica viuvez da mesma, ou alguém que nem nome de pai tem. Não obstante sua origem humilde, ele realiza sinais (ensino e milagres) que causam espanto. Daí o escândalo. Sabem que Jesus nunca estudou (Jo 7,15) e acreditam que Deus não permite a um pecador fazer milagres (Jo 9,31). Como entender tudo isto? Pode, Deus se manifestar numa pessoa tão simples e frágil assim?
Esta cosmovisão religiosa dos conterrâneos foi o grande empecilho para aderir a Jesus, pois tal adesão, além de exigir conversão de mentalidade, exige fé. Sem a fé, nem o ensino e, menos ainda os milagres levam a aceitar Jesus. Os milagres nunca foram, em Jesus, espetáculos para convencer curiosos do sobrenatural. Sem a fé, os milagres não existem. Por isto, diante da incredulidade dos conterrâneos, Jesus ficou sem fazer milagres. Os conterrâneos não conseguiram entrar na lógica da cruz (1Cor 1,22-25). Sua messianidade não é apenas a encarnação humana, mas inserir-se na última situação em que vivem os humanos: a fraqueza desde o nascimento até a cruz. Diante disto se constata que o povo simples adere (Mc 1,22; 2,1ss; 3,20s), mas outros se recusam: as autoridades (Mc 3,6), os parentes (Mc 3,20ss), os conterrâneos (Mc 6,1ss). Talvez se possa explicar esta adesão/recusa de duas maneiras. 1) o povo simples sofre e por isto procura libertação; 2) o povo não estava tão condicionado pela teologia oficial que afastava o povo de Deus e Deus do povo. Já a elite, com sua visão teológica viciada, incorreu na frase de Is 6,9-10: tem olhos e não veem e, ouvindo, não entendem (Mc 4,12).
Jesus já ensinara na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21ss). Tanto lá, como em Nazaré, ele ensina e causa boa impressão. Marcos não diz o que ele ensinava, mostra apenas o ensino com a prática libertadora. O texto paralelo de Lc 4,14-30 traz algumas ideias do seu ensino. Nazaré é a última ida de Jesus à sinagoga. Mais tarde, irá ao templo para o confronto final (Mc 11-12). Tanto no encontro com os parentes, como no presente relato, encontra-se um eco daquilo que mais tarde, nos anos 90, o quarto evangelho escreve: “Veio para o que era seu, mas os seus não o acolheram” (Jo 1,11).
Relação com as outras leituras
O profeta Ezequiel, apenas um filho de homem, mero homem, foi enviado aos israelitas para lembrar a palavra de Deus. Devido a sua humilde condição, não o ouvirão, como também os conterrâneos de Jesus. Estes, como aqueles, desprezam os apelos de Deus que se manifestam nos pequenos. O mesmo se percebe em Paulo que, não se gloria de suas grandezas, mas justamente de suas fraquezas. Ele mostra que Deus não precisa de homens fortes para realizar seus planos. Ele não escolhe os autossuficientes, mas dá a graça aos fracos e com eles realiza seus desígnios salvíficos. Esta é a lógica de Deus que se revela nas três leituras da liturgia deste domingo.
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Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF
Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE FRANCISCNA
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