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Celebrar o Natal na pandemia?

por Ana Lúcia Jacomini

Artigo Semanal de Dom Rodolfo Luís Weber, arcebispo de Passo Fundo

Dom Rodolfo
Foto: Arquidiocese de Passo Fundo

“Este ano não tenho motivação para preparar a ornamentação de Natal”. “Não tem clima favorável para celebrá-lo”. Ouvi este argumento melancólico, de um cristão católico, a respeito da celebração do Natal de 2020 que será envolto na pandemia da covid-19. Será que esta é a forma adequada de olhar para o natal e tudo que o envolve? A pandemia impede de celebrá-lo? Ou é a compreensão de natal que deve ser revista e corrigida?

Porém, o desencanto de quem pensa assim sobre o natal deste ano deve ressoar como um grito, como um sinal de alerta. É um sintoma de uma anomalia que deve tratada e curada. A pandemia sanitária provocou uma reflexão mais profunda sobre outras pandemias. No dia 27 de março de 2020, o Papa Francisco, solitário na praça de São Pedro rezava: “Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa.  Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

O desencanto de preparar e celebrar o natal revela que existe uma desfiguração do Natal. A analogia da maquiagem pode ajudar. Um rosto sem maquiagem imediatamente é reconhecido como um rosto humano. Uma maquiagem bem-feita torna o rosto mais belo e ressalta traços marcantes e próprios; uma maquiagem malfeita deforma o rosto. Nas artes cênicas o recurso da maquiagem permite desfigurar um rosto humano dando-lhe a aparência de outra “criatura”, conforme o enredo proposto.

A ornamentação do natal tem por finalidade ressaltar o rosto do Menino Jesus, o Salvador do mundo, nascido em Belém. Se a compreensão do natal está distante da verdade e a ornamentação é malfeita desfigura totalmente o rosto de Jesus. Este natal, de fato, não se deve ter vontade de celebrar, em qualquer tempo, e, principalmente, em tempo de pandemia.

Sim é preciso celebrar solenemente o Natal em meio à pandemia - respeitando as normas sanitárias, sem aglomerações, respeitando os limites previstos nos decretos. Todas as profecias que anunciavam a chegada do Messias suscitavam esperança no povo desolado, triste, cabisbaixo. A presença do Salvador abria nova forma de olhar a vida e de se relacionar. Quando o fato aconteceu, o evangelista Lucas escreve (2,10-11): “O anjo então disse: Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!”

Todos os anos se faz memória deste fato e, principalmente através das celebrações da Eucaristia, se louva e se agradece a Deus por ter estabelecido morada entre nós humanos, ter vivido como nós humanos, do nascimento até a morte de cruz. O evangelista São João diz que Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho a nós para nos salvar.

Celebrar o acontecimento histórico do nascimento de Jesus, não é aula de história. Porém são 2020 anos que este fato repercute no mundo e influencia pessoas que acolhem e seguem Jesus Cristo. Hoje a celebração do Natal é um anúncio de uma grande alegria que a Igreja faz para o mundo. Convida para fortalecer a fé em Jesus e a pertença à comunidade ou de reavivar a fé.

Contemplar o rosto humano do Menino Deus no presépio dá alento e esperança. Renova-se a certeza que o Emanuel, que significa, Deus conosco participa da nossa vida nesta hora em que todos estão fragilizados pela pandemia.  

FELIZ E ABENÇOADO NATAL DE 2020!

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