Subsídio Exegético . 20º Domingo do Tempo Comum 15 de agosto de 2021
Liturgia Dominical - Ano B
Subsídio Exegético . Liturgia Dominical - Ano B - 20º Domingo do Tempo Comum. Nossa Senhora da Assunção - Dia: 15 de agosto de 2021
Primeira Leitura: Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab
Salmo: 44,10bc.11.12ab.16
Segunda Leitura: 1Cor 15,20-27a
Evangelho: Lc 1,39-56
Os textos da Sagrada Escritura aqui relacionados, inserem-se numa visão redentora da humanidade. A celebração da assunção de Maria acontece motivada por perícopes bíblicas que compõem este quadro maior da obra redentora de Cristo, sem a qual não entenderemos o papel desempenhado por Maria.
O texto do Apocalipse abre o pórtico da atuação da Mulher/figura da Igreja/Maria, no plano escatológico. Aqui, a maternidade de Maria é teologicamente apreciada como maternidade messiânica.
O capítulo 15 de 1Cor, direciona nossa atenção para a chave interpretativa que une os textos desta celebração: “em Cristo todos receberão a vida”.
O louvor de Maria dá início aos cânticos de exaltação do NT. Em Lc 1 e 2 há cinco deles: 1. o Magnificat (Lc 1,46-55); 2. o Benedictus (Lc 1,68-79); 3. o Gloria in excelsis (Lc 2,14); 4. o Nunc dimittis (Lc 2,29-32); 5. o louvor da profetisa Ana (Lc 2,38). Os hinos em Lc têm a função de explicar pneumatologicamente os acontecimentos. Maria é convocada a interpretar o evento escatológico do qual, agora, faz experiência o povo de Deus. Não fala só de si mesma; aqui toda a salmodia do povo de Deus do antigo pacto atinge o seu vértice e é superada.
Acrescentemos ainda o seguinte: o Magnificat é um cântico com franco teor escatológico. Por essa razão, é digno de nota justamente que a maioria das formas esteja no aoristo, isto é, na forma verbal do pretérito, embora se trate primordialmente de eventos cujo cumprimento ainda estava por vir.
Em Lc 1,42 a frase “bendita és tu entre as mulheres”, faz ecoar palavras de bênção semelhantes a Jz 5,24 e Jt 13,18; e “bendito é o fruto do teu ventre” ecoa a bênção mosaica prometida aos obedientes, em Dt 28,1.4. Esses ecos possibilitam ver que o foco recaía, além de Maria individualmente, também sobre o povo de Deus como um todo.
O v.43 com a expressão “meu Senhor” (tou kyriou mou) ecoa o estilo do Sl 110,1 (veja o paralelo em Lc 20,41-44; At 2,34) e, portanto, aponta para a natureza messiânica de Jesus. O v. também faz ecoar 2Sm 6,9, embora a relação entre Maria e a arca da aliança não seja tão evidente.
O conjunto a seguir, formado pelos vv. 46-55, compõe o conhecido Magnificat que, tanto na forma quanto no conteúdo se baseia em vários hinos do AT. Da perspectiva do conteúdo, o correspondente mais próximo talvez seja o cântico de Ana em 1Sm 2,1-10, em que se encontra o tema da libertação, quando o Deus santo de Israel olha para o estado humilde de sua serva. Em ambos os textos, esse foco pessoal se transforma no tema geral da inversão, quando Deus exalta os humildes e humilha os poderosos. Na forma do texto encontramos paralelos com vários Salmos (note-se a influência dos Sl 34; 35; 89; 103).
No v. 48 a referência à “condição humilde” (tapeinōsis) tem sido compreendida como uma referência à humilhação sofrida pela virgem prometida em casamento que agora engravidou; mas nem o contexto, nem os correspondentes mais amplos com os relatos de nascimento do AT apoiam essa interpretação. Um correspondente mais próximo acha-se em 1Sm 1,11, em que o termo aparece em referência ao reverso da sorte de Ana em sua gravidez. Porém, como no cântico de Ana, em 1Sm 2,1-10, tapeinōsis também pode referir-se à humilhação do povo de Deus oprimido. Ou seja, evidencia-se uma importante conexão entre a sorte do indivíduo e o destino do povo de Deus. No v. 52, a expressão, hypsōsen tapeinous “exaltou os humildes” se pode denominar uma expressão estilizada, convencional (cf. Jó 5,11). O adjetivo tapeinous (“os humildes”) funciona como rótulo de status econômico e, também, como identificação que se refere ao povo de Deus.
Não pode ser desconsiderada a importância do reverso da sorte do “pobre” (ptōchos) em todo esse Evangelho (cf. 4,18; 6,20; 7,22; 14,13.21; 16,20-22).
Entre os vv. 49-51 aparecem explícitas referências que conectam este cântico ao AT. No AT, o título “o Poderoso” (ho dynatos) é usado em referência ao Deus guerreiro (cf. Sf 3,17) e “grandes coisas” (megala) lembra os feitos poderosos de Deus durante o êxodo (Dt 10,21). A expressão “sua misericórdia” (to eleos autou) pressupõe o relacionamento da aliança entre Deus e seu povo, e a afirmação de que “sua misericórdia passa de geração para geração para os que o temem” pertence à linguagem das tradições litúrgicas de Israel. Tanto nas tradições do êxodo (Ex 6,1-6; Dt 3,24; 7,12) quanto nas do novo êxodo (Is 51,5.9; 53,1), encontram-se as figuras do braço/mão de Deus em referência ao seu poder. O uso aqui do tempo aoristo (e em outros lugares do Magnificat) pode ser interpretado como afirmação de certeza dos atos escatológicos de Deus.
Três passagens do AT fornecem o contexto para o desfecho do Magnificat: Is 41,8-9; Sl 98,3 e Mq 7,20. Todas as três estabelecem a conexão entre as promessas abraâmicas e o ato redentor de Deus em favor de seu povo. As ideias (misericórdia, promessa aos antepassados, Abraão) apontam para a esperança escatológica da libertação definitiva, da qual a noção teológica da Assunção da mãe de Jesus é sinal prenhe de esperança.
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF
Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
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