Como uma quadrilha internacional manipulava jogos no Brasil
Os placares eram acertados previamente e enviados antes de as partidas acontecerem
A polícia desbaratou nesta quarta-feira, 06/07, uma quadrilha internacional que subornava técnicos e jogadores de futebol profissional no Brasil para manipular resultados de jogos e lucrar em casas de apostas asiáticas e europeias.
As fraudes aconteciam principalmente em campeonatos estaduais - séries A2, A3 e B (quarta divisão) do Paulista e, em torneios da primeira divisão de Estados do Norte e do Nordeste do país, segundo as investigações.
Os placares eram acertados previamente e enviados antes de as partidas acontecerem para lideranças da quadrilha na Indonésia, Malásia e China.
Os criminosos então apostavam grandes quantidades de dinheiro nesses placares - muitos deles improváveis - em casas de apostas da Ásia e da Europa.
Muitas delas trabalham com apostas em uma grande variedade de esportes e modalidades em todo o mundo, inclusive jogos de futebol de times pequenos no interior do Brasil.
Embora esse tipo de aposta seja proibido no Brasil, é legal em muitos países e movimenta milhões de dólares - é possível literalmente apostar em qualquer coisa.
O esquema
A investigação sobre o esquema criminoso partiu do departamento de segurança da Fifa. Ao suspeitar de fraudes, a entidade contratou a empresa europeia de auditoria Indexx Data, para iniciar uma investigação.
A auditoria identificou indícios de manipulação de resultados ao analisar operações em casas de apostas e descobriu que parte das operações acontecia no Brasil.
O Ministério Público foi alertado e, no início de 2016, uma investigação foi aberta pela Drade, a Delegacia de Repressão e Análise de Delitos de Intolerância, da Divisão de Proteção da Pessoa do DHPP de São Paulo.
A investigação começou nesses órgãos porque a Justiça, o Ministério Público e Polícia Civil paulistas têm áreas especializadas em crimes relacionados ao futebol.
A apuração começou a partir de denúncias feitas à polícia por dirigentes de clubes do interior paulista.
Na medida em que a investigação avançava, as autoridades descobriram que no Brasil o esquema era liderado por um carioca e um ex-jogador de futebol da Indonésia.
Eles contratavam aliciadores que entravam em contato com treinadores e jogadores. Para fraudar o resultado de uma partida, cada time recebia quantias que variavam entre US$ 20 mil (R$ 66 mil) e US$ 30 mil (R$ 100 mil).
O dinheiro da propina era enviado pelos líderes da quadrilha na Ásia.
"É muito difícil provar esse tipo de fraude, porque a maioria desses jogos não é transmitido pela televisão e em alguns casos sequer são filmados ou é feita alguma súmula da partida", afirmou à BBC Brasil uma fonte ligada à investigação.
Mas as provas foram reunidas por meio de denúncias e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.
Prisões
Equipes da Drade se deslocaram então para cidades em três Estados do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará.
Eles cumpriram ao menos sete mandados de prisão e diversos de apreensão. Os suspeitos devem responder pelos crimes de associação criminosa e manipulação de resultados de jogos.
Fontes ligadas à investigação disseram suspeitar de que as fraudes não se restringiam aos campeonatos das séries menos conhecidas de São Paulo, do Norte e do Nordeste.
Essa deve ser apenas a primeira fase da operação Game Over. As investigações devem continuar a partir das provas apreendidas nesta quarta-feira nas casas dos suspeitos.
Não é descartada a possibilidade de a quadrilha ter ramificações em mais países.
Fonte: BBC Brasil
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