Oito passo-fundenses teriam participado dos atos de domingo em Brasília
Um dos nomes aparece na lista de presos no DF
Pelo menos oito passo-fundenses estão ou estiveram em Brasília participando dos atos que levaram à depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal no domingo, 08/01. Um dos nomes aparece, inclusive, na última lista de presos divulgada pela Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal.
As informações foram apuradas e divulgadas pela Frente Antifacista de Passo Fundo. A articulação ainda deve seguir buscando outras informações. Segundo conversa com fontes de dentro do movimento, ainda haveria alguns nomes da região na lista – nenhum, contudo, de Marau. Também foram identificados alguns organizadores e há suspeita de financiadores dessa viagem.
Parte dessas pessoas ainda deve passar por audiência de custódia, ouvindo os detidos e realizando a prisão definitiva ou liberação mediante pagamento de fiança, de acordo com entendimento da Justiça. Ao todo, estariam presas 1.159 pessoas, sendo que outras 684 foram soltas devido a idade, saúde, entre outras motivações.
Redes sociais
Uma das pessoas que estaria no Distrito Federal (DF) é a engenheira ambiental Dayane Muhammad. Natural de Passo Fundo e residente em São Paulo, ela teria se deslocado até a capital federal junto de amigos ainda no sábado, 07/01. Ela atuava como criadora de conteúdo, redatora e estrategista digital autônoma.
Em seu período no município vizinho de Marau, ela chegou a estudar na Universidade de Passo Fundo. Dayane frequentou a faculdade de Jornalismo até o sétimo semestre e concluiu o curso de Engenharia Ambiental fazendo uso do Portal Único de Acesso ao Ensino Superior (PROUNI) e do Ciência sem Fronteiras. Dentro da instituição de ensino, chegou a publicar um artigo propondo um método de medida dos custos ambientais para a indústria – disponível neste link. Em 2017, ela realizou a pesquisa e redação do livro best seller “Mentalidade”, de Pablo Paucar, pela Editora Gente.
Dayane foi um dos casos que mais chamou atenção por ter gravado e divulgado um vídeo ao vivo pelo próprio perfil no Instagram, que foi reproduzido por usuários nas redes sociais. Enquanto transita pela Via N1, próximo ao viaduto pelo qual passa o Eixo L, sentido Esplanada dos Ministérios em direção à Torre de TV de Brasília, ela afirma que “é tudo ou nada, quebramos tudo, quebramos tudo”. “Não sobrou nada”, complementa.
Em vídeo divulgado nos stories na segunda-feira, 09/01, também reproduzido por usuários, ela volta a comentar a data, confirmando sua presença na Praça do Três Poderes. “Tá tudo bem comigo, tá tudo bem com todos os meus amigos. Por quê? Porque a gente é pacífico. A gente foi lá manifestar na paz e na tranquilidade”, alega em oposição às declarações da noite anterior. As contas teriam sido apagadas após a repercussão.
Transporte
Uma fonte consultada pela reportagem da Tua Rádio Alvorada afirmou que um transporte teria saído de Passo Fundo levando responsáveis pelos atos para Brasília. Questionada se teria algum registro nesse sentido, a fonte respondeu que o fato teria sido confirmado por uma pessoa que trabalha como diarista para uma família que teria participado dos atos – e conversou a respeito do ocorrido com os contratantes.
Em áudio encaminhado à reportagem, a pessoa consultada pela fonte afirma que os empregadores não iam de ônibus aos atos de domingo, “mas está tudo organizado já, estão tentando a volta do pessoal para cá de novo”. Ainda informa que não seria necessário apoio financeiro, pois, segundo os contratantes, “todo mundo que foi para lá tinha dinheiro”.
Dados apurados por GZH até a terça-feira, 10/01, contudo, não continham informações de um ônibus fretado que teria partido de Passo Fundo. Os veículos teriam partido de Porto Alegre, Santa Maria, Santa Rosa e Novo Hamburgo.
Nota
A Frente Antifacista de Passo Fundo divulgou, na manhã desta quinta-feira, 12/01, uma nota a respeito dos atos do domingo. Você confere o posicionamento na íntegra abaixo:
NOTA DA FRENTE ANTIFASCISTA DE PASSO FUNDO
A tentativa de golpe ocorrida no domingo (08/01), organizada por lideranças de extrema direita, apoiadoras do ex-presidente Bolsonaro, foi o maior ataque à institucionalidade e à democracia desde o fim da ditadura militar. É imperativo identificar e responsabilizar estes criminosos.
O Terror e o vandalismo aos prédios dos três poderes em Brasília demonstram a necessidade de enfrentamento permanentemente ao pensamento, às lideranças e às organizações de extrema direita no Brasil. O ataque - financiado, planejado e executado pela extrema direita - foi uma tentativa de assalto, não só à institucionalidade vigente, mas ao regime democrático.
Desde a derrota eleitoral e o questionamento da legitimidade da soberania do voto popular, a extrema-direita promoveu várias ações contra os brasileiros. O vandalismo aos prédios em Brasília foi uma entre outras ações planejadas. Para derrubar o governo eleito democraticamente, bloquearam estradas em todo país, tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília, assim como realizar um atentado à bomba, também na capital federal. A obstrução de refinarias e novos bloqueios também estavam no horizonte bolsonarista para espalhar o medo e o terror pelo Brasil.
A extrema-direita bolsonarista é organizada nacionalmente, conta com lideranças de vários setores econômicos e sociais, boa capacidade de financiamento, ampla simpatia em setores religiosos e dos servidores da segurança pública e Forças Armadas. A ausência de apoio de setores importantes da sociedade e da opinião pública derrotou o movimento golpista em Brasília, mas não o pensamento e as organizações extremistas e fascistas existentes na sociedade, que cresceram demais no governo Bolsonaro. Diante disso, reafirmamos a importância política de enfrentá-los e derrotá-los em todos os locais do país, organizando os trabalhadores, entidades sindicais, movimentos sociais, partidos políticos, assim como setores e lideranças democráticas da sociedade brasileira em movimentos que permitam reagir e defender a população de outras tentativas como esta.
É fundamental que as pessoas que participaram, financiaram e lideraram todos esses atos sejam identificadas e punidas exemplarmente dentro da lei, SEM NENHUMA ANISTIA. A Frente antifascista de Passo Fundo irá contribuir na identificação, denúncia e exposição para a responsabilização de pessoas da cidade e região que tiveram alguma participação nos atos.
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