Mortes durante conflitos por terra no Brasil são retratadas em publicação
Compilação apresenta números preocupantes
‘Conflitos no Campo Brasil’ traz dados alarmantes de 2016: o número de assassinatos em meio a impasses por áreas agrícolas até junho de 2017 já se aproxima do total de mortes registradas em todo o ano passado. Para apresentar o problema e, mais do que isso, denunciar a dura realidade no meio, a comissão da Pastoral da Terra – CPT nacional e do Rio Grande do Sul, lançou uma edição do livro nesta quinta-feira (22/06) no Memorial do Legislativo, em Porto Alegre. Durante apresentação, marcaram presença o presidente da Assembleia Legislativa gaúcha, Edegar Pretto (PT) e o deputado federal Deonilso Marcon (PT/RS).
A publicação é um documento que mostra o cenário do problema no meio rural. O livro é lançado a cada ano na tentativa de registrar os fatos e buscar soluções. Nos combates por um pedaço de terra há registros de trabalho escravo, brigas infindáveis e problemas com o uso da água até chegar aos assassinatos. Se em 2015 a quantidade de mortes em confrontos chegou a 50, o ano passado atingiu 61 e, neste ano, os registros já atingem 40 mortes no campo.
“Se trata de denunciar de forma organizada com os dados que são recolhidos durante o ano. A comissão acompanha caso a caso e o andamento dos julgamentos”, ressalta o coordenador da CPT no estado, Frei Wilson Dallagnol.
‘O Brasil possui terras que causam uma enorme cobiça’ -
Para Dallagnol, os motivos para a violência começam nos entendimentos sobre posse. Problemas que poderiam ser solucionados com demarcação de espaços indígenas e quilombolas ou, ainda, com titulação para os chamados ‘posseiros’ que trabalham na agricultura.
“Funciona assim: um grupo de latifundiários põe o olho na terra dos posseiros - que não possuem título definitivo, ou em áreas indígenas cobiçadas por mineradoras ou propícias para a soja, por exemplo. É a cobiça da área, a vontade do agronegócio! Cerca de 88% dos conflitos de terra são causados pela iniciativa privada. Em geral, pelo latifundiário”, enfatiza.
Além do interesse agrícola, tanto a Amazônia quanto a mata Atlântica representam oportunidades de vasta matéria-prima para a indústria de cosméticos e para a medicina.
Os integrantes da CPT preocupam-se, ainda, com a recente medida do governo federal em liberar a venda de terras para grupos estrangeiros no Brasil.
Caso no Rio Grande do Sul – Entre as 40 mortes nos conflitos de terra neste ano, uma delas aconteceu no assentamento Mato Castelhano, próximo a Passo Fundo. Uma índia kaigang de 23 anos morreu enquanto dois grupos indígenas trocavam tiros. Giovana Deodoro deixou dois filhos.
Agravante no Pará – Presente no lançamento, o deputado Marcon (PT/RS) falou da situação no estado paraense. Durante um seminário sobre a violência em Belém, relatos assustaram. Segundo o parlamentar, além dos diversos ataques no campo foi comum ouvir que pessoas estavam juradas de morte. Questionado sobre o assunto ser pauta no Congresso, ele afirma que para muitos deputados ‘pobre bom é o que morreu antes de nascer’.
Saiba mais sobre a CPI da Funai e do Incra na nota da CNBB
Por Noele Scur/Correspondência_Porto Alegre
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